quarta-feira, 30 de abril de 2025

Crime de violência psicológica com uso de 'deep nudes' tem pena aumentada; saiba como denunciar


Montagens pornográficas feitas com imagens de vítimas causam danos emocionais graves. Especialistas orientam como reunir provas e denunciar. Quando a violência psicológica envolve inteligência artificial, os seus efeitos costumam ser ainda mais profundos. Unsplash Se o crime de violência psicológica contra a mulher for cometido com uso de tecnologias que alterem a fala ou a imagem da vítima, a sua pena pode ser aumentada. É o caso das "fake nudes" ou "deep nudes", montagens pornográficas falsas feitas a partir de imagens de vítimas com uso de inteligência artificial. A violência psicológica é crime desde 2021 e tem pena de seis a dois anos de prisão, além de multa. Com a mudança, que começou a valer na última quinta-feira (24), a punição pode aumentar em até metade se houver o uso de tecnologia. Isso significa, por exemplo, que uma pena de dois anos pode chegar a três. Para a advogada Juliana Abrusio, especialista em direito digital do escritório Machado Meyer, o aumento da pena faz sentido porque o uso da tecnologia potencializa os danos. "A violência psicológica é qualquer conduta que cause dano emocional à mulher, em detrimento de seu desenvolvimento ou visando controlar suas ações", afirma. "Quando envolve uso de IA, os efeitos costumam ser ainda mais profundos". A especialista destaca que esse tipo de conteúdo é criado e espalhado rapidamente, alcançando um número crescente de pessoas, o que aumenta a extensão e a profundidade do sofrimento. Além disso, a sensação de impotência e medo é ampliada, pois a vítima perde o controle sobre o alcance do conteúdo e é mais difícil identificar os agressores por trás das telas, segundo ela. "Já ouvi mulheres dizerem que preferiam ter levado uma surra a ver montagens pornográficas com suas imagens circulando nas redes”, conta. 'Um dos meus melhores amigos fez deepfake pornô contra mim' G1 Explica: Deepfake Candidatas são vítimas de deep nudes -- manipulações por inteligência artificial em fotos e vídeos, colocando-as em poses eróticas ou atos sexuais O que fazer se for vítima de deepfake 1. Reúna provas Mesmo diante do impacto emocional, é fundamental reunir as provas antes de qualquer tentativa de apagar o conteúdo, alerta a advogada Iolanda Garay, presidente da Associação Nacional das Vítimas de Internet (Anvint). Isso porque, segundo ela, muitas vezes, o autor da publicação apaga o material logo após divulgá-lo ou enviá-lo. “Tire prints, grave vídeos da tela, baixe os arquivos, anote o link do conteúdo e do perfil responsável, o contato (como número de telefone ou @ do perfil), a data e o meio de divulgação (WhatsApp, Telegram, Instagram etc.)”, orienta. Ela aconselha também que, se possível, a vítima registre todo esse material em ata notarial — um documento feito em cartório que dá ainda mais credibilidade às provas — ou por meio de tecnologias como o blockchain. Essas evidências (registradas em ata ou não) são essenciais para que as autoridades consigam identificar a origem do conteúdo e pedir, por exemplo, a quebra de sigilo de IP (número que identifica o dispositivo usado na publicação), segundo a especialista. 2. Denuncie nas plataformas Procure os canais específicos de denúncia das plataformas e registre o acontecimento. Segundo Juliana, após serem notificados, os provedores são obrigados a remover conteúdos íntimos — como fotos ou vídeos com nudez ou atos sexuais — divulgados sem autorização, conforme previsto pelo artigo 21 do Marco Civil da Internet. 3. Registre um boletim de ocorrência Leva as provas disponíveis à delegacia e faça um boletim de ocorrência. Iolanda aconselha que a vítima procure, sempre que possível, uma Delegacia da Mulher. “É um momento muito doloroso e, nesses locais, os profissionais costumam ser mais preparados para oferecer acolhimento emocional adequado”, afirma. "Mas as denúncias podem ser feitas em qualquer delegacia". Também é possível denunciar pelo Ligue 180, canal da Central de Atendimento à Mulher. Isso é indicado, segundo a especialista, principalmente para vítimas que têm dificuldades para ir a uma delegacia. Nos casos em que há envolvimento de crianças ou adolescentes, a orientação é procurar a Polícia Federal ou órgãos especializados, como o Conselho Tutelar ou unidades como o Nucria (Núcleo de Proteção à Criança e ao Adolescente). Com isso será aberta uma investigação que pode encontrar e responsabilizar criminalmente tanto quem criou a imagem manipulada quanto quem a divulgou, segundo as especialistas. ➡️​Dica extra: se possível, busque orientação jurídica durante o processo. Segundo Iolanda Garay, ter o apoio de um profissional especializado ajuda a reduzir o sofrimento e dá mais segurança à vítima. Veja mais: 'Machosfera' brasileira: canais misóginos do YouTube transformam ódio em lucro com anúncios, doações e vendas online 'Deepfake ao vivo': tecnologia que muda rosto e voz em videochamada já existe na vida real

Como estar em 'ilha energética' influenciou apagão em Portugal e Espanha


O apagão histórico na Península Ibérica expôs os pontos fortes e fracos de um sistema elétrico mal conectado ao resto do continente europeu. A Península Ibérica, onde ficam Portugal e Espanha, à noite, vista do espaço Nasa via BBC O grande apagão que deixou milhões de pessoas na Espanha e em Portugal sem energia na segunda-feira (28/04) destacou a situação única de seus sistemas elétricos. Os dois países da Península Ibérica formam o que os especialistas chamam de "ilha energética", com pouca conexão com o resto da Europa. Na segunda-feira, a rede elétrica na Espanha e em Portugal entrou em colapso por motivos ainda sob investigação, privando moradores de energia e outros serviços essenciais, como transporte ferroviário, telecomunicações e atividades comerciais por horas. Embora a energia já tenha sido restaurada, o incidente serviu para destacar as especificidades do sistema elétrico da Península Ibérica, cuja autonomia tem implicações positivas e negativas. Como funciona a 'ilha energética' ibérica? Espanha e Portugal compartilham um sistema elétrico altamente integrado que forma uma "ilha energética". Embora ambos os países não estejam geograficamente isolados, eles têm capacidade muito limitada de importar ou exportar eletricidade para seus vizinhos. A taxa de interconexão da Península Ibérica com os demais países é de aproximadamente 2%, segundo a operadora espanhola Redeia, bem abaixo dos 10% recomendados pela União Europeia para 2022 e da meta de 15% para 2030. Este baixo nível de conectividade deve-se, em parte, à sua localização geográfica no canto sudoeste da Europa, com a cordilheira dos Pireneus servindo de barreira natural entre Espanha e França, além dos obstáculos técnicos e políticos ao aumento da capacidade das ligações com a França ou com o Marrocos, por mar no sul. "Temos conexões muito limitadas com o Marrocos. A única conexão significativa que temos é com a França, e ela é recente. Nesse sentido, somos uma ilha energética", explica Carlos Gutiérrez Hita, professor do Centro de Pesquisa Operacional da Universidade Miguel Hernández, na Espanha. Apesar deste isolamento, a península tem uma vasta rede interna compartilhada, permitindo uma estreita coordenação entre os dois países, gerida pelo Mercado Ibérico de Eletricidade (MIBEL), onde portugueses e espanhóis compram e vendem eletricidade diariamente. Gutiérrez Hita descreve o MIBEL como "uma plataforma gigantesca com todas as informações de licitações para usinas e empresas". "A plataforma classifica essas ofertas para criar a função de fornecimento e também coleta previsões de demanda dos distribuidores, muitos dos quais também são geradores", explica ele. Graças a esse modelo conjunto, a energia flui livremente entre Espanha e Portugal, e o preço é quase sempre o mesmo em todas as regiões de ambos os países: "Se em algum momento o preço estiver muito alto em Portugal, ele é um pouco flexibilizado com as interligações de energia da Espanha", diz o professor. Este sistema tem limitações quando ocorrem eventos extremos, como o apagão de grandes proporções da última segunda-feira, já que, em caso de emergência, a capacidade limitada de importação de energia elétrica obriga os dois vizinhos a recorrerem a recursos próprios para resolver a situação. Mas o sistema também tem certas vantagens. As vantagens O fato de Espanha e Portugal formarem uma "ilha energética" trouxe benefícios nos últimos anos, especialmente em tempos de crise. Um exemplo claro foi o chamado "mecanismo ibérico", aprovado pela União Europeia em 2022 após o início da guerra na Ucrânia e a interrupção do fornecimento de gás russo. Graças ao seu status excepcional como um sistema mal interconectado, a Península Ibérica recebeu aprovação para limitar temporariamente o preço do gás usado na geração de eletricidade, o que ajudou a conter os preços do mercado atacadista e a proteger tanto os consumidores quanto as indústrias com uso intensivo de eletricidade. Além disso, embora a insularidade energética limite a capacidade de receber ajuda externa em momentos críticos, ela também promoveu um modelo mais autossuficiente, eficiente e resiliente, pelo menos em condições normais de operação. No momento do apagão de 28 de abril, mais de 75% do consumo de eletricidade da Espanha veio de fontes renováveis, segundo dados da Redeia, que classifica o sistema ibérico como um dos mais verdes do mundo. Carlos Gutiérrez Hita enfatiza que, devido à sua autonomia, Espanha e Portugal foram forçados a desenvolver um sistema mais versátil, variado e poderoso. "Temos mais usinas de combustíveis fósseis, usinas de ciclo combinado, algumas usinas a carvão, embora ainda existam muito poucas, usinas eólicas e fotovoltaicas mais versáteis espalhadas pelo país, e algumas usinas nucleares. Tudo isso permite mais opções", ressalta o especialista. Gutiérrez Hita destaca que a Península Ibérica tem capacidade para gerar muito mais energia do que consome, "especialmente energia renovável, que inclusive foi injetada a preços negativos". Além disso, a coordenação entre Espanha e Portugal permite a otimização do uso dos recursos energéticos com base no preço e na procura. "Se o mercado for menor, você terá menos espaço para distribuir energia. Nessa perspectiva, ter um sistema conjunto é muito melhor", acrescenta. Olhando para o futuro, essa configuração também abre as portas para que Espanha e Portugal se tornem exportadores de energia limpa, desde que a capacidade de suas interconexões com a Europa seja aumentada. As desvantagens O apagão de segunda-feira evidenciou um dos maiores riscos de Espanha e Portugal se tornarem uma ilha energética: a dificuldade de receber apoio externo em caso de emergência. Quando o colapso ocorreu, as interconexões com a França foram automaticamente interrompidas como precaução, e o sistema ibérico teve que ser amplamente restaurado por seus próprios meios. "Assim que a França detectou que havia transferências de energia muito grandes, ela as interrompeu por precaução", explica o professor Carlos Gutiérrez Hita. Com quase nenhuma importação de eletricidade da França e do Marrocos, o sistema ficou sem reserva, embora, após o apagão, ambos os países tenham enviado eletricidade para a península para ajudar a restaurar o fornecimento. "Em um momento difícil, essas coisas podem acontecer: você pode ter uma queda de energia porque ninguém pode tomar o seu lugar", diz o especialista. Outro fator de vulnerabilidade é a intermitência das energias renováveis: embora sejam limpas e abundantes, sua produção depende de fatores meteorológicos, o que exige tecnologias capazes de compensar picos e quedas bruscas. Por outro lado, as tentativas de fortalecer a interconexão elétrica com a Europa enfrentam há anos a oposição da França, que possui uma grande rede de usinas nucleares e, segundo alguns analistas, teme que o aumento das conexões com a Península afete sua posição no mercado. Embora existam planos em andamento para novas ligações entre os Pireneus e o Golfo da Biscaia, sua construção tem sido lenta e dificultada pela oposição de certos setores. Diante dessa situação, especialistas como Gutiérrez Hita insistem na necessidade urgente de investir em baterias, redes inteligentes e sistemas de armazenamento que permitam uma melhor gestão do grande excedente de energia renovável na Península Ibérica. "É viável, mas a um custo alto. O grande desafio tecnológico é fazer baterias mais baratas, que durem mais e poluam menos ao final da vida útil", afirma. Isso permitiria que famílias e comunidades com seus próprios sistemas de energia solar reduzissem sua dependência do sistema centralizado, o que aliviaria a pressão na rede geral e aumentaria o excedente para consumo e exportação. No entanto, o especialista ressalta que, para isso, é essencial que Espanha e Portugal superem o isolamento elétrico e que a União Europeia considere esta questão uma prioridade estratégica.

terça-feira, 29 de abril de 2025

Trump elogia Bezos após Amazon negar plano de mostrar custo de impostos com tarifaço


Presidente dos EUA descreveu o empresário como 'muito amável' e 'fantástico'. 'Resolveu o problema muito rapidamente e é uma boa pessoa', disse. Donald Trump REUTERS/Nathan Howard O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou nesta terça-feira (29) que o fundador da Amazon, Jeff Bezos, "fez o correto" ao bloquear um plano do site de comércio eletrônico de mostrar aos consumidores o quanto os impostos afetam o preço final dos produtos. Horas antes, o porta-voz da Amazon, Tim Doyle, desmentiu uma reportagem do veículo de comunicação americano Punchbowl News que dizia que a empresa começaria a mostrar "o quanto as tarifas de Trump aumentam o preço de cada produto". A notícia gerou tensão com a Casa Branca. LEIA TAMBÉM: ENTENDA: Por que governo Trump criticou reação da Amazon às tarifas Trump suaviza impacto de tarifas sobre setor automotivo dos EUA Dólar tem 8ª queda seguida e fecha a R$ 5,63, com possível alívio nas tarifas dos EUA Veículos de comunicação americanos reportaram que Trump entrou em contato com Bezos para discutir o assunto. Ao sugerir a confirmação dessa conversa, o presidente descreveu o empresário como "muito amável" e "fantástico". "Resolveu o problema muito rapidamente e é uma boa pessoa." "A equipe por trás da nossa loja de preços ultrabaixos Amazon Haul considerou incluir os custos de importação em alguns produtos. Isso nunca foi aprovado e não acontecerá", disse Tim Doyle, porta-voz da Amazon. "Esse é um ato hostil e político da Amazon. Por que ela não fez isso quando o governo Biden elevou a inflação ao nível mais alto em 40 anos?", havia criticado antes a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt.

Governo processa Meta por permitir golpes com símbolos oficiais e imagens de autoridades


Anúncios fraudulentos aproveitaram desinformação sobre Pix e usaram imagens de políticos; AGU afirma que fraude poderia ter sido evitada e pede a devolução dos lucros obtidos com a veiculação desses anúncios. Logo da Meta, controladora do Facebook, em foto tirada em 28 de outubro de 2021 Justin Sullivan / Getty Images North America / Getty Images via AFP O governo entrou com um processo contra a Meta para barrar o uso de símbolos oficiais e imagens de autoridades em golpes divulgados no Facebook e no Instagram (controlados pela empresa). A iniciativa partiu da Advocacia-Geral da União (AGU), que entrou com a ação nesta segunda-feira (28). Segundo a AGU, ao menos 1.770 anúncios enganosos foram publicados nessas redes sociais entre os dias 10 e 21 de janeiro, com o objetivo de enganar usuários. Os golpes simulam programas do governo, utilizam logotipos oficiais, nomes de órgãos públicos e imagens manipuladas por inteligência artificial de figuras políticas para dar credibilidade às fraudes. O conteúdo prometia, por exemplo, o recebimento de valores via Pix, condicionado ao pagamento de uma suposta taxa — estratégia que se aproveitou de uma onda de desinformação sobre o sistema de pagamentos para atrair vítimas no período. A ação tem como base um estudo do Laboratório de Estudos de Internet e Redes Sociais da UFRJ (NetLab), divulgado em fevereiro. Falhas na moderação e pedido de indenização A AGU afirma que os anúncios tinham erros grosseiros, como nomes de programas inexistentes e padrões gráficos diferentes dos usados pelo governo, e que poderiam ter sido facilmente identificados se houvesse uma análise adequada por parte da plataforma. Mais especificamente, a ação foi movida contra a empresa Facebook Brasil, responsável pela publicidade das plataformas da Meta no país. O governo pede que a Meta indenize a sociedade por danos morais coletivos e devolva os valores ganhos com a veiculação dos anúncios fraudulentos, com os recursos destinados ao Fundo de Defesa dos Direitos Difusos. A AGU também cobra a adoção de medidas mais eficazes de verificação de anúncios. O g1 entrou em contato com a Meta e espera seu posicionamento sobre o tema. UFRJ aponta epidemia de golpes com PIX nas redes

Governo revela projeto para brasileiros 'venderem' dados para empresas; entenda


Projeto é realizado pelo Dataprev, estatal de tecnologia que gerencia dados de inscritos no INSS e em programas de assistência social. Segundo a empresa, objetivo é que titulares tenham controle sobre suas informações pessoais. Rob Pegoraro, Gustavo Franco (ex-presidente do Banco Central), Rodrigo Assumpção (presidente-executivo do Dataprev) e Brittany Kaiser (fundadora da Own Your Data) Vaughn Ridley/Web Summit via Sportsfile A Dataprev, empresa estatal de tecnologia que gerencia dados de milhões de pessoas, anunciou nesta terça-feira (29) um projeto para permitir que brasileiros "vendam" seus dados para empresas em troca de dinheiro. O Dataprev gerencia dados beneficiários do INSS e de programas de assistência social, por exemplo. O objetivo é permitir que os titulares tenham controle sobre seus dados, afirmou o presidente-executivo da estatal, Rodrigo Assumpção, no Web Summit Rio. "Estamos prontos para começar uma iniciativa que certificará os dados referentes a esses contratos e permitirá que os dados sejam monetizados", afirmou Assumpção. A iniciativa está em fase de estudos, mas o chefe do Dataprev acredita que, no início, não deverá existir uma opção para empresas identificarem pessoas específicas em um conjunto de dados. "Acredito que o uso desses dados será menos para identificar indivíduos e mais para identificar tendências de mercado", afirmou. Como deve funcionar? Hoje, o Dataprev já intermedia contratos de empréstimo consignado entre instituições e beneficiários do INSS. Agora, a ideia é criar um meio para que os dados pessoais incluídos nesses contratos sejam usados por terceiros. "Haverá uma opção para o indivíduo autorizar que os dados referentes a este contrato sejam colocados em uma carteira de dados e fiquem disponíveis para monetização", explicou Assumpção. Em seguida, a soma de todos os dados liberados por uma pessoa seria oferecida para empresas. Ainda de acordo com Assumpção, a ideia é que o titular dos dados tenha a opção de interromper o compartilhamento de suas informações a qualquer momento.

Presidente do STF diz que velocidade da evolução tecnológica dificulta regulação da IA


Ministro Luís Roberto Barroso participou de forma remota de um painel do Web Summit Rio 2025. Barroso também falou sobre a possibilidade de substituição parcial dos juízes por IA e do 'embate com o extremismo' no Brasil. O ministro Luís Roberto Barroso participou de forma remota de um painel do Web Summit Rio 2025, um dos maiores eventos de tecnologia do planeta. Raoni Alves / g1 Rio O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Luís Roberto Barroso, afirmou nesta terça-feira (29), durante o Web Summit Rio 2025, que um dos principais desafios para a regulação das ferramentas de IA e outras inovações no Brasil é a velocidade da evolução tecnológica. Em sua fala durante o evento, Barroso lembrou sobre a rápida disseminação das ferramentas de tecnologia atuais em comparação com recursos menos modernos, como o telefone fixo e a internet. "A regulação da IA, como tudo em tecnologia, mas especialmente a inteligência artificial, enfrenta as dificuldades da velocidade das transformações do mundo atual. A velocidade da transformação dificulta em ampla medida essa regulação", comentou Barroso. "O telefone fixo, por exemplo, levou 75 anos para chegar a 100 milhões de usuários. O telefone celular levou 16 anos para chegar a 100 milhões de usuários. A internet levou 7 anos. Já o ChatGPT, que é uma versão comercial importante de IA generativa, chegou em 100 milhões de usuários em 2 meses", disse o ministro do Supremo. Na opinião do presidente do STF, os avanços possíveis no momento são em relação a proteção de direitos fundamentais, liberdade de expressão e fortalecimento da democracia, por exemplo. "Essa é a velocidade da transformação do mundo contemporâneo, de modo que, a gente tem que regular um fenômeno que a gente olha para frente e não consegue ver com clareza o que vai acontecer no futuro muito próximo", argumentou. "Tudo que você consegue fazer é regular o meio de grandes princípios de proteção de direitos fundamentais, liberdade de expressão, liberdades individuais, proteção da democracia contra a desinformação massificada, contra os discursos de ódio e os ataques a democracia", acrescentou Barroso. STF em defesa da democracia O presidente do STF foi um dos destaques do Web Summit Rio 2025, um dos maiores eventos de tecnologia do mundo. Ele participou de forma remota, direto da capital dos Estados Unidos, do painel 'Tecnologia, verdade e a constituição'. Rio recebe até quarta o Web Summit, maior evento de tecnologia do mundo Ao lado de Ronaldo Lemos, fundador do ITS Rio e membro do Conselho de Supervisão Independente da Meta, o ministro do STF também falou sobre o papel da Justiça brasileira no combate a desinformação. Barroso citou o papel das instituições oficiais e da sociedade civil em defesa da democracia. Segundo ele, o Brasil viveu uma "situação muito peculiar". "O Brasil, diferente de outros lugares do mundo, teve um embate muito relevante com o extremismo, com ameaça de golpe de estado. E o STF teve um protagonismo ao lado da sociedade civil e da imprensa, parte da classe política, de oferecer resistência a utilização das plataformas digitais com o ímpeto destrutivo dessas instituições para a preparação para um golpe de estado", comentou. "Foi uma situação muito peculiar. Mas a liberdade de expressão é um valor fundamental na democracia e é preciso preservá-la com a maior intensidade possível. Mas é possível evitar também que o mundo desabe em um abismo de incivilidade com a destruição das instituições e a garantia dos direitos fundamentais", disse Barroso. Substituição parcial de juízes por IA Durante o painel, o presidente do STF também comentou sobre a utilização de novas tecnologias no trabalho da corte suprema do país. Segundo Barroso, o STF já utiliza três ferramentas de inteligência artificial no dia a dia de suas atividades. Para reforçar a importância dessa adesão tecnológica, o juiz lembrou do grande volume de processos em andamento no Brasil. "Com o volume de processos que existe no Brasil, a ferramenta de IA se tornou primordial. O Brasil talvez seja um dos recordistas mundiais em número de processos em andamento. Em dezembro, nós tínhamos 83,8 milhões de processos. Considerando a população adulta em torno de 160 milhões, se a estatística fosse uma ciência fácil, nós poderíamos dizer que um a cada dois adultos está em juízo", argumentou. "Nós temos ferramentas de inteligência artificial no Supremo. Temos a Victor, que identifica quais os casos que tem precedente. Temos a Victória, que agrupa os assuntos que chegam por tema. (...) E mais recentemente, a Maria, que recebe processos com 20 volumes e transforma aquilo em um resumo básico de 5 páginas. Nós utilizamos intensamente como ferramenta auxiliar ao trabalho do Supremo", explicou Barroso. Perguntado se no futuro os juízes poderiam ser substituídos por ferramentas de IA para a tomada de decisões judiciais, o ministro disse que a substituição total não deve acontecer. "Acho que substituição a curto prazo não ocorrerá. A Inteligência Artificial vai ser uma importante ferramenta auxiliar, inclusive para preparar uma primeira versão de uma decisão, uma primeira minuta. Ou tomar decisões de rotina, de mero impulso processual. Mas acho que nesse momento, em nenhuma hipótese, se pode dispensar a supervisão de um juiz e a responsabilidade de um juiz em uma decisão", comentou. Contudo, Barroso acredita que a IA pode dar decisões mais simples, de 1° instância, onde os interessados ainda poderiam recorrer da decisão. "Eu não considero distante no tempo, a possibilidade de, ao menos as questões mais simples, possam ter uma primeira instância decidida por inteligência artificial, sempre com a possibilidade de recurso para uma supervisão humana", disse. "Eu não vejo com preocupação maior o uso da IA. Vejo que ela vai se tornando cada vez mais indispensável para uma boa prestação de Justiça", completou.

Globo lança estação-piloto da TV 3.0


A nova geração de TVs promete melhor qualidade de imagem, som envolvente e interatividade. Paulo Marinho no evento de lançamento da DTV+ g1 A Globo anunciou nesta terça (29) o lançamento de uma estação-piloto da TV 3.0, que será chamada DTV+ no Brasil. A estação-piloto marca o início das transmissões experimentais do novo patamar da TV. A tecnologia tornará o sistema da TV mais inteligente e personalizado, além de melhorar imagem e som. Inicialmente será necessário adquirir um conversor para usufruir da experiência da DTV+. Entre os principais benefícios, a nova geração de TVs promete melhor qualidade de imagem, som envolvente e interatividade, mantendo a TV aberta de graça. O mercado espera que os primeiros usuários possam aproveitar essa inovação já durante a Copa do Mundo de 2026. Segundo o Ministério das Comunicações, dependendo da preparação das emissoras, a nova tecnologia poderá estar em vigor antes mesmo de 2026. Além do Brasil, outros países têm se preparado para adotá-la. No entanto, o objetivo é que, no futuro, os novos televisores já saiam de fábrica com toda essa tecnologia integrada. Nesta reportagem, você saberá: DTV+: o novo nome da TV 3.0 As vantagens da DTV+ (TV 3.0) Depende de internet? Preciso trocar de televisão? Quanto vai custar o conversor? DTV+: o que é TV 3.0, que oferece melhor qualidade de imagem e recursos interativos DTV+: o novo nome da TV 3.0 A primeira televisão, analógica e com imagens em preto e branco, ficou conhecida como 1.0. Anos depois, surgiu a TV 2.0, com imagens em cores e conectividade à internet. Agora, a TV 3.0 representa o próximo patamar da televisão digital e, segundo especialistas, entregará mais interatividade, personalização e qualidade de imagem e som (entenda mais abaixo). Em agosto de 2024, o Fórum do Sistema Brasileiro de Televisão Digital Terrestre anunciou o novo nome da TV 3.0 no país, que passou a se chamar Digital Television+ (DTV+). As vantagens da DTV+ (TV 3.0) 🖼️ Melhores imagens: o usuário poderá assistir a conteúdos da TV aberta com mais definição, brilho e contraste, em qualidade 4K e até 8K. 📺 Canais: a tecnologia permite que os canais de TV sejam semelhantes a aplicativos. "Em vez de ficar passando de canal em canal, você terá o aplicativo de cada emissora, algo mais próximo do que já vemos hoje nas Smart TVs", diz Wilson Diniz, secretário de Comunicação Social Eletrônica do Ministério das Comunicações. 🔈Som imersivo: a nova tecnologia oferece uma experiência sonora envolvente, com qualidade de cinema, de acordo com especialistas. 📣 Personalização da publicidade: assim como já acontece nas redes sociais, as emissoras poderão segmentar ainda mais os anúncios, entregando opções personalizadas. "Se a pessoa quer trocar de carro, será possível exibir propagandas que falem diretamente com quem está em busca de um novo veículo," explica Leonora Bardini, diretora de programação da TV Globo. ⚡Interatividade: o público poderá interagir com conteúdos da TV aberta, como votar em enquetes e até comprar produtos exibidos ao vivo. "Assim que ligar e se logar, a TV já vai te conhecer, saber seus gostos e oferecer uma combinação de conteúdo e publicidade. É uma TV personalizada, feita exclusivamente para cada pessoa", diz Leonora Bardini. Depende de internet? Não será necessária conexão à internet para usufruir das vantagens da TV 3.0, explica Wilson Diniz. "A qualidade de imagem 4K, 8K e o som imersivo estarão disponíveis, mesmo que o usuário não tenha conexão", garante. No entanto, conectar a TV à internet permite uma experiência mais completa, ampliando as possibilidades de interatividade e personalização, segundo especialistas. Por exemplo, será possível comprar a mesma roupa que o ator usa na novela ou o bolo que acabou de aparecer no programa de culinária. Além disso, você poderá votar para eliminar um participante de um reality show — tudo diretamente pela televisão. "Em um jogo entre Brasil e Argentina, a TV já saberá que você é torcedor do Brasil e proporcionará uma experiência completa que dialoga com a sua seleção ou time do coração," exemplifica Leonora. "Isso será possível porque você já informou o seu time ao acessar o ge.globo, por exemplo. Tudo estará sincronizado," completa a executiva. Preciso trocar de televisão? Assim como ocorreu na transição do sinal de TV analógico para o digital, inicialmente será necessário adquirir um conversor para usufruir da experiência da DTV+. A expectativa é que, no futuro, os novos televisores já venham de fábrica com suporte à nova tecnologia. Wilson Diniz afirma que as fabricantes fazem parte do Fórum do Sistema Brasileiro de Televisão Digital Terrestre e estão envolvidas nas discussões da DTV+ desde o início, justamente para preparar o mercado. "Estamos estudando formas de incentivar a adoção da tecnologia, inclusive com incentivos fiscais para os fabricantes que já adotarem a TV 3.0", completou. Quanto vai custar o conversor? Por enquanto, existem apenas protótipos dos conversores de TV 3.0, por isso ainda não é possível definir os preços para o consumidor, conforme explicou o Ministério das Comunicações ao g1. O governo ainda não confirmou se os equipamentos serão distribuídos, mas há discussões sobre a possibilidade de entrega gratuita para famílias de baixa renda, similar ao que ocorreu na expansão do sinal digital. Enquanto isso, a Globo está realizando testes, exibindo alguns recursos da DTV+ em regiões específicas, tanto em aparelhos conectados ao sinal broadcast (antena) quanto no Globoplay. LEIA TAMBÉM: Microsoft Copilot: nova versão da IA ganha voz, visão e raciocínio profundo Como limitar quem pode te colocar em grupos no WhatsApp? O serviço de internet da Amazon que quer competir com empresa de Elon Musk TV 3.0 vai ser interativa e gratuita, e dará acesso à programação de TV aberta e streaming no mesmo lugar Entenda a relação entre 5G, o sinal de TV e antenas parabólicas em 5 pontos iPhone 16 é lançado com novo botão para controlar a câmera; veja preços no Brasil O primeiro tradutor de Libras foi apresentado no Web Summit Rio 2024

Atendeu e a ligação caiu? Saiba como robôs usam chamadas como 'provas de vida'


As chamadas automáticas, conhecidas como robocalls, são disparadas por sistemas computadorizados e têm como principal objetivo atingir o maior número possível de pessoas em um curto intervalo de tempo. Robocalls: entenda como as chamadas indesejadas funcionam como 'provas de vida' Quem nunca recebeu uma ligação indesejada? Uma oferta de telemarketing, um aviso falso de que você ganhou na loteria ou, pior ainda, um golpe. Essas chamadas têm se tornado cada vez mais comuns no Brasil, onde, por mês, aproximadamente 20 bilhões de ligações são feitas, sendo 10 bilhões delas realizadas por robôs. As chamadas automáticas, conhecidas como robocalls, são disparadas por sistemas computadorizados e têm como principal objetivo atingir o maior número possível de pessoas em um curto intervalo de tempo. Elas duram, em média, apenas seis segundos, tempo suficiente para identificar se a linha está ativa. Para os consumidores, o efeito é irritante, já que muitas vezes, ao atender, a ligação simplesmente cai. "Eu não sei qual é a finalidade disso", diz um morador, refletindo o desconforto de muitos. O fato de a ligação cair é, na verdade, uma técnica chamada "prova de vida". "Se a ligação é atendida, isso indica que o dono da linha está vivo e ativo", explica Cristiana Camarate, superintendente de Relações com Consumidores da Anatel. Isso permite que os robôs filtrem números válidos para que as empresas possam direcionar suas estratégias de marketing para consumidores ativos. A prática é amplamente utilizada por centrais de telemarketing para reduzir o tempo gasto com chamadas que não levariam a resultados. "Quando a gente recebe essa base telefônica, a gente tem que testar para saber se os clientes estão ativos", conta um ex-funcionário de call center. Ele revela que, a partir desse filtro, os atendentes passam a ligar apenas para números "ativos". Ligações automáticas indesejadas, chamadas de "robocalls" Fantástico A empresária Rosaura Brito, de Santo Antônio da Patrulha, no Rio Grande do Sul, recebe entre 30 a 40 chamadas por dia. Mesmo tendo se cadastrado no site "Não Me Perturbe" da Anatel, ela continua sendo bombardeada por essas ligações automáticas. "Eu estou trabalhando, e o telefone não para de tocar", conta. Rosaura se vê obrigada a não atender números desconhecidos, mas isso pode resultar em problemas, como o ocorrido com Gabriela Scholl, funcionária pública de Santana do Livramento, que perdeu a oportunidade de fazer um exame médico porque não atendeu a uma dessas chamadas. Essas chamadas também afetam serviços essenciais, como hospitais. "Já tivemos pacientes que perderam o transplante porque não atenderam o telefone", relata Jaqueline Bica, enfermeira da Santa Casa, no Rio Grande do Sul. No setor de recursos humanos, Silvana Ribeiro, gerente de RH, alerta que candidatos que não atendem às chamadas podem perder vagas de emprego. Em janeiro e fevereiro deste ano, o Brasil registrou cerca de 24 bilhões de robocalls, um aumento de 12% em relação ao mesmo período de 2024. Esse fenômeno vem gerando uma série de problemas para os brasileiros. Enquanto isso, a Anatel segue combatendo as ligações abusivas. Desde 2022, a agência reduziu 222 bilhões de chamadas circulando nas redes de telecomunicações e implementa novas medidas como o sistema "Origem Verificada", que permitirá ao consumidor ver a identidade da empresa antes de atender a ligação. Entretanto, a prática não se limita ao telemarketing. Quadrilhas do crime organizado também se aproveitam dessas tecnologias para aplicar golpes. Especialistas alertam que os criminosos frequentemente gravam palavras como "sim" ou "não" durante a conversa, que podem ser usadas para fraudar contratos. Investigações realizadas pelo Fantástico também revelaram que empresas de telemarketing frequentemente compram listas com dados pessoais, incluindo números de telefone, e os utilizam para disparar essas ligações automáticas. "Eu me sinto invadido, é um absurdo", afirmou Matheus Arend, psicólogo de Guaíba, no Rio Grande do Sul, cujo número apareceu em uma dessas listas. Além de ilegal, a prática de alterar o DDD das ligações para fazê-las parecerem locais também é comum e é considerada uma fraude. Isso é feito para aumentar a probabilidade de o consumidor atender à chamada, sem saber que está lidando com um sistema automatizado. Empresas de telemarketing e especialistas em crimes cibernéticos alertam que a utilização desses sistemas é passível de punição. José Milagre, advogado especializado em crimes digitais, destaca que, dependendo do caso, as empresas podem ser acusadas de falsidade ideológica, fraude eletrônica e até mesmo associação criminosa. "São ligações muito autênticas, parecem reais, fazendo com que as vítimas não consigam discernir que elas estão caindo num golpe", explica. "É importante destacar que muitos criminosos vão pedir, vão forçar você a dizer palavras como sim e não, porque isso pode ficar gravado e ser utilizado contra você em outros contratos. Então jamais diga nenhuma palavra, não interaja, bloqueie esses números". Em resposta ao aumento das robocalls, a Anatel afirma que está intensificando o combate a essas práticas. A previsão é que, com o sistema "Origem Verificada", os consumidores consigam identificar as chamadas legítimas, dando-lhes mais segurança e controle sobre as ligações que recebem. Para aqueles que continuam sendo incomodados por essas chamadas, a recomendação é clara: bloquear os números desconhecidos e não interagir com elas. No entanto, a falta de uma solução definitiva e a continuidade das chamadas automáticas geram frustração para milhões de brasileiros que, cada vez mais, esperam um pouco de sossego. Veja a reportagem completa no vídeo abaixo: 23 mil ligações por segundo: o Fantástico investiga como funcionam os robôs programados para tirar você do sério Ouça os podcasts do Fantástico ISSO É FANTÁSTICO O podcast Isso É Fantástico está disponível no g1, Globoplay, Deezer, Spotify, Google Podcasts, Apple Podcasts e Amazon Music trazendo grandes reportagens, investigações e histórias fascinantes em podcast com o selo de jornalismo do Fantástico: profundidade, contexto e informação. Siga, curta ou assine o Isso É Fantástico no seu tocador de podcasts favorito. Todo domingo tem um episódio novo. PRAZER, RENATA O podcast 'Prazer, Renata' está disponível no g1, no Globoplay, no Deezer, no Spotify, no Google Podcasts, no Apple Podcasts, na Amazon Music ou no seu aplicativo favorito. 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segunda-feira, 28 de abril de 2025

'Machosfera' brasileira: canais misóginos do YouTube transformam ódio em lucro com anúncios, doações e vendas online


Influenciadores da machosfera movimentam milhares de reais na plataforma com conteúdo que promove ódio contra as mulheres, segundo pesquisa realizada pelo NetLab, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) . YouTube Rashidul Islam/Unsplash Quando criou o blog Escreva Lola Escreva, em 2008, a professora da Universidade Federal do Ceará (UFC) e blogueira feminista não imaginava que dar visibilidade a casos de machismo e misoginia a colocaria no centro de uma campanha sistemática de ódio online. Muito menos que, anos depois, esse mesmo discurso violento se tornaria altamente lucrativo. "Desde a primeira semana de blog tinha comentários misóginos, mas não necessariamente ameaças", relata Lola, que criou seu blog para ter liberdade editorial para falar sobre feminismo, cinema, literatura, política, entre outros temas. "Em 2010, chegou até mim um link para sites masculinistas e comunidades no Orkut. Comecei a entrar e vi que eles já falavam sobre mim enquanto eu nem sabia da existência deles." Com o avanço da internet, esses grupos masculinistas ampliaram e diversificaram o discurso de ódio contra as mulheres e conquistaram legiões de seguidores. Hoje, conseguem monetizar vídeos e transformam a misoginia em um negócio rentável, movimentando milhares de reais com conteúdos que pregam o controle sobre mulheres, deslegitimam o feminismo e reforçam estereótipos de gênero. Atualmente, 137 canais no YouTube no Brasil publicam conteúdo explicitamente misógino, somando mais de 105 mil vídeos e cerca de 152 mil inscritos. Pesquisa identifica 137 canais com conteúdo misógino no YouTube no Brasil Os dados são de uma pesquisa realizada pelo NetLab, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), para o Ministério das Mulheres. Ela foi divulgada em dezembro do ano passado. A pesquisa mapeou a chamada "machosfera" e descobriu que cerca de 80% desses canais adotam pelo menos uma estratégia de monetização, que incluem anúncios, doações em transmissões ao vivo, assinaturas e venda de serviços e produtos. "A machosfera se divide em subculturas com diferentes níveis de misoginia, como os red pills, incels e até nomes menos conhecidos, como os ‘pick-up artists', que ensinam técnicas de manipulação para conquistar mulheres e reforçam estereótipos de gênero", diz Débora Salles, coordenadora do NetLab da UFRJ. "Observamos que o ódio contra as mulheres se transformou num negócio rentável, não só para esses canais, mas principalmente para as plataformas. Nesse caso, para o YouTube." 'Adolescência': como surgiu a sinistra 'machosfera' retratada pela série O mercado da misoginia Entre as estratégias para monetizar, a mais comum entre os canais analisados é a exibição de anúncios no YouTube: 52% deles exibem ao menos um vídeo com publicidade. Em seguida, está o Programa de Membros da plataforma – ferramenta que permite ao público pagar uma assinatura mensal em troca de conteúdos exclusivos –, adotado por 28% dos canais misóginos. As assinaturas podem custar de R$12,50 a R$ 149 por mês, segundo a pesquisa. No entanto, uma das formas mais lucrativas de monetização são os Super chats – doações feitas por espectadores durante transmissões ao vivo. Em 257 lives de oito canais, o estudo identificou uma arrecadação total que supera R$ 68 mil, com uma média de R$ 267 por transmissão. Além das ferramentas da plataforma, 28% dos canais analisados também vendem cursos, produtos e serviços ou recebem doações por Pix. Em alguns casos, influenciadores chegam a cobrar R$ 1 mil por consultas individuais que abordam desde "treinamento emocional" até conteúdos que naturalizam violência psicológica e humilhação. No caso da venda de e-books anunciados, os preços ofertados variam entre R$ 17,90 e R$ 397. "Atualmente, as redes sociais são baseadas em uma economia da atenção que premia conteúdos sensacionalistas e divisivos", diz Mariana Valente, professora da Universidade de St.Gallen e diretora do InternetLab, centro independente de pesquisa focado em internet e direitos humanos. "Isso faz com que a plataforma não tenha interesse em controlar e eliminar esses conteúdos." ‘Machosfera’: o que prega o movimento machista que cresce nas redes sociais Machosfera: o que é o movimento machista das redes sociais que virou caso de polícia Políticas de proteção falhas O YouTube proíbe, segundo suas diretrizes de uso, conteúdos que promovam violência ou discurso de ódio com base em sexo, gênero ou orientação sexual. As regras se aplicam a vídeos, transmissões ao vivo, comentários e até links externos. A empresa afirma que, ao identificar esse tipo de conteúdo – inclusive por meio de denúncias –, ele é removido. Na prática, a eficácia dessas políticas tem se mostrado limitada. A pesquisa aponta que os produtores de conteúdo da machosfera empregam diversas estratégias para fugir da moderação do YouTube, como uma linguagem própria para mascarar o caráter misógino das mensagens. "Percebemos que as plataformas e, mais especificamente, o YouTube, não estão conseguindo dar conta desse problema", afirma Salles. "Quem tem o poder de tirar esse conteúdo do ar é a plataforma, mas ela faz isso sem cumprir regras transparentes sobre quem pode ficar e por que fica, ou quem sai e por que sai." A blogueira feminista Lola viveu essa ambiguidade em 2018, quando tentou criar um canal no YouTube e descobriu que estava banida — apesar de nunca ter publicado vídeos nem infringido regras nos poucos comentários que havia feito na plataforma. Professora Lola Aronovich Arquivo pessoal "Suspeito que meu nome tenha sido usado por grupos masculinistas para comentários de ódio até que eu estivesse banida", conta Lola. "Criei outro canal com um novo e-mail, que também foi removido no ano passado após denúncias dos masculinistas. Hoje, não posso ter nenhum tipo de remuneração lá." "É revoltante, porque eu não conheço quase nenhuma feminista que ganha dinheiro no YouTube, mas antifeminista é o que mais tem, e eles ganham muito dinheiro com isso", completa a blogueira. Procurada, a assessoria do YouTube não respondeu até a publicação deste texto. Problema além do digital Segundo especialistas, a cultura da machosfera ajudou a criar um ambiente tóxico para as mulheres nas redes sociais, especialmente aquelas com algum tipo de atuação pública – como políticas, jornalistas e influenciadoras digitais. Elas são constantemente hostilizadas e têm as vidas diretamente afetadas. A criadora de conteúdo Ana Schreder diz que passou a ser alvo constante de ataques desde que viralizou no TikTok rebatendo comentários da comunidade red pill. Embora tenha mudado o foco dos vídeos para temas como autoconhecimento e bem-estar, a violência persistiu. "Eles se incomodam absurdamente com o meu jeito de ser. Só o fato de eu estar na internet, sendo mulher, falando da minha vida, da minha autoestima, sem tentar agradar a homens, já é motivo para ataques", afirma Schreder. "Pegam vídeos meus do TikTok, publicam no X (antigo Twitter), fazem reações no YouTube, e os comentários são nojentos." Além de conteúdo com misoginia disfarçada, a pesquisa também encontrou vídeos que encorajam, relativizam ou justificam abusos e violências contra mulheres, utilizando argumentos que culpabilizam as vítimas ou normalizam comportamentos violentos. "Meninos muito jovens têm acesso a esses conteúdos e vão naturalizando piadas que vão desde ‘lugar de mulher é na cozinha' até um comentário de ‘se sua namorada te desagrada, você dá um tapão na cara dela'", ressalta a diretora do InternetLab. Segundo a pesquisa, o número de vídeos da machosfera no YouTube aumentou significativamente desde 2022, com 88% publicados nos últimos três anos. No mesmo período, os dados de violência contra mulheres também aumentaram. Entre 2021 e 2023, o número de feminicídios subiu de 1.347 para 1.463, segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Casos de violência doméstica e familiar também cresceram quase 10% entre 2022 e 2023. Embora a pesquisa não estabeleça uma relação direta entre o crescimento desses discursos e o aumento da violência, a ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, afirmou à reportagem que o ódio contra as mulheres disseminado nas redes repercute no país inteiro. "Esse tipo de discurso termina por autorizar a violência que tem crescido contra meninas, adolescentes e mulheres idosas no Brasil", afirma Gonçalves. "Estamos vivendo um momento muito complicado e, para o governo federal, uma regulação mínima das plataformas é estratégica. Para o Ministério das Mulheres, essa regulação é fundamental para que as mulheres não vivam nessa situação constante de violência." Discord: o que é a rede social usada para cometer crimes contra adolescentes? Desafio da regulação Ao longo dos anos, à medida que o blog de Lola Aronovich se consolidava como uma das principais referências do movimento feminista no Brasil, os ataques misóginos e a perseguição por parte de grupos masculinistas também se intensificavam. As agressões incluíam ameaças diretas e até a criação de sites com o objetivo de difamar sua imagem. Lola afirma que ainda recebe ameaças diretas com frequência. "Todo final de ano eles me ligam para dizer que vai ser meu último Natal e Ano Novo viva. Muita gente me pergunta como lido com isso e, infelizmente, a gente se acostuma. É horrível dizer isso, porque não deveríamos ter que nos acostumar, mas é verdade." O ativismo de Lola e suas denúncias ao longo dos anos resultaram, em 2018, na aprovação da chamada Lei Lola – a primeira legislação brasileira a incluir o termo misoginia, e que atribui à Polícia Federal a responsabilidade de investigar a disseminação de conteúdos de ódio contra mulheres na internet. No entanto, cerca de sete anos após a criação, a blogueira afirma que a lei ainda não foi devidamente implementada. "Desde que a lei foi criada, tentamos marcar uma reunião com a direção da Polícia Federal para discutir questões básicas, como a criação de um canal específico de denúncias e os critérios de aplicação da lei, mas até hoje não conseguimos avançar." Especialistas destacam que a falta de regulamentação eficaz da internet, somada à não aplicação das leis existentes, permite que conteúdos misóginos sigam circulando e gerando lucro. Sem regulação, as plataformas não são obrigadas a removê-los. Segundo Mariana Valente, o Marco Civil da Internet, aprovado em 2014, foi um passo importante ao estabelecer diretrizes para responsabilizar provedores em casos específicos, como a divulgação não consensual de imagens íntimas. No entanto, ela ressalta que a legislação ainda é insuficiente para enfrentar o conjunto de violências digitais com base em gênero. Segundo especialistas, a regulação não pode ser vista como solução única e precisa estar atrelada a um conjunto de políticas públicas que envolvam diferentes áreas, como educação, saúde, segurança e justiça. "Isso tem que ser adotado como um objetivo por muitos atores sociais", afirma Valente.

'Me assustei com os comentários', diz influenciadora que viralizou ao simular parto de uma bebê reborn


Postado originalmente em 2022, o vídeo de Carolina Rossi simulando o nascimento de uma boneca voltou a ganhar repercussão nas redes sociais após um encontro de 'mães' de bebê reborn em São Paulo. Influenciadora Carolina Rossi, também conhecida como 'Sweet Carol', realizando um 'parto' da boneca bebê reborn Reprodução/Instagram Um vídeo da influenciadora Carolina Rossi, também conhecida como "Sweet Carol", simulando o "parto" de uma bebê reborn viralizou nas redes sociais, gerando críticas e memes, especialmente no X. Bebê reborn é o nome dado a bonecas feitas para parecerem bebês de verdade. Por serem mais realistas, esses modelos costumam ser bem mais caros que bonecas convencionais. Na internet, é possível encontrar versões que custam cerca de R$ 400, mas algumas chegam a quase R$ 1.300. O g1 verificou que o vídeo de Carolina foi publicado originalmente em 2022 no TikTok, onde ultrapassou 115 milhões de visualizações. A gravação foi repostada na última semana no Instagram, onde acumulava 4 milhões de visualizações até a manhã desta segunda-feira (28). Em entrevista ao g1, Carolina confirmou que o vídeo é antigo e que voltou a viralizar após um encontro de mulheres com suas bebês reborns, realizado neste mês no Parque Ibirapuera, em São Paulo. Ela explicou que, no post, compartilhou apenas um trecho de segundos do "parto", e que o vídeo completo, que traz mais detalhes do processo de dar à luz, foi postado no YouTube. Initial plugin text No vídeo da influenciadora, a boneca aparece dentro de uma espécie de bolsa amniótica e com um "cordão umbilical". Carolina rasga a bolsa, remove o líquido e retira a boneca. "É assim que nasce uma bebê reborn", diz a legenda da postagem feita no último sábado (26). "Me assustei com a repercussão depois de ver a quantidade de comentários e algumas páginas de fofoca mostrando o vídeo. Muita gente veio criticar sem nem me conhecer, dizendo que eu preciso ser internada. Muitos também acham que eu sou colecionadora de bebê reborn, mas não sou", disse a influenciadora. Ela afirma trabalhar com conteúdo ASMR, sigla em inglês para Autonomous Sensory Meridian Response, que pode ser traduzida como resposta sensorial autônoma dos meridianos. Vídeos de ASMR normalmente mostram ações consideradas satisfatórias pelos usuários, que podem ser apreciadas visualmente ou por meio do áudio. "Dentro do segmento de ASMR, existe algo chamado roleplay, em que a gente interpreta personagens e profissões, por exemplo. Eu posso ser professora, médica ou contadora de histórias. Em 2022, interpretei uma obstetra usando uma bebê reborn, e acabou viralizando", conta Carolina. Nos comentários, muita gente criticou o "parto" da boneca. "Saudades de quando nunca tinha assistido um parto de bebê reborn", comentou uma pessoa. "Estou traumatizada", disse outra. "Triste é saber que perdi esses 50 segundos pra sempre [assistindo ao vídeo]", enfatizou outra. Também teve quem brincasse com a aparência da bebê reborn. "A bebê já nasceu cansada. Olha a cara dela de 'eu quero um pingado e um cigarro'". "O neném já veio com cara de desconfiado", comentou outra pessoa. Repercussão sobre bebê reborn no X Initial plugin text Initial plugin text Initial plugin text Initial plugin text Initial plugin text Initial plugin text Initial plugin text sverificou que o vídeo de Carolina foi publicado originalmente em 2022 no TikTok, onde ultrapassou 115 milhões de visualizações. A gravação foi repostada na últimasno Instagram, onde acumulava 4 milhões de visualizações até a manhã desta segunda-feira (28). 'Mil vezes melhor que celular': por que as câmeras Cyber-shot estão saindo da gaveta Brasileiros treinam inteligência artificial para abordar temas como racismo e nazismo Cursos de 'IA do job' prometem dinheiro e ensinam a usar fotos de modelos sem autorização

Amazon planeja lançar hoje 27 satélites de internet para competir com Starlink


Missão Kuiper Atlas 1 deve decolar às 20h, na Flórida, e marca a entrada da empresa de Jeff Bezos na disputa com a rede de satélites de Elon Musk. Foguete Atlas V da United Launch Alliance (ULA) que planeja levar os primeiros satélites de internet da Amazon para o espaço. Divulgação/ United Launch Alliance A Amazon deve lançar nesta segunda-feira (28) seus primeiros satélites do Projeto Kuiper, que promete competir com a Starlink, rede de internet via satélite da SpaceX, de Elon Musk. Batizada de Kuiper Atlas 1, a missão está prevista para decolar às 20h em Brasília, da estação espacial de Cabo Canaveral, na Flórida. Os 27 satélites desta primeira fase do projeto serão acoplados a um foguete Atlas V da empresa United Launch Alliance (ULA). O serviço de internet da Amazon que quer competir com empresa de Elon Musk A previsão é de 75% de condições meteorológicas favoráveis para o lançamento, que já foi adiado anteriormente devido ao mau tempo. O Projeto Kuiper, subsidiária da Amazon, chega com anos de atraso em relação à Starlink, que desde 2019 ampliou sua presença global e hoje conta com mais de 6.750 satélites ativos, atendendo mais de cinco milhões de clientes. A rede da SpaceX também tem sido usada para garantir acesso à internet em zonas de guerra e desastres naturais, como na Ucrânia e no Marrocos. Jeff Bezos investiu US$ 10 bilhões (cerca de R$ 56,7 bilhões) no Kuiper. A empresa pretende colocar 3.200 satélites na órbita terrestre baixa — até 1.900 km de altitude — e iniciar a operação até o fim de 2025. O preço do serviço ainda não foi divulgado, mas a Amazon promete uma opção de baixo custo. A Amazon planeja acelerar os lançamentos nos próximos meses e anos, com mais de 80 voos reservados por meio da United Launch Alliance (uma joint venture formada pelas empresas aeroespaciais americanas Boeing e Lockheed Martin), a francesa Arianespace, a Blue Origin, do próprio Bezos, e a SpaceX. Os satélites do Kuiper se juntam à crescente constelação de dispositivos em operação na órbita baixa, junto com a Starlink, a europeia OneWeb e a chinesa Guowang. Veja mais: O que é e como funciona a Starlink, serviço de internet de Elon Musk Katy Perry no espaço: Blue Origin divulga imagem da tripulação no espaço

Ligações automáticas: entenda por que o 'Não Me Perturbe' é incapaz de conter robôs


Nem todas as empresas aderiram à plataforma que bloqueia chamadas abusivas, e outras conseguem burlar os filtros da Anatel, dizem especialistas. 'Não Me Perturbe' não funciona? Por que pessoas recebem ligações de telemarketing Desde 2019, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e as operadoras de telecomunicações disponibiliza a plataforma "Não Me Perturbe", que dá aos usuários a opção de bloquear chamadas abusivas de telemarketing. Ainda assim, muitos brasileiros continuam a ser incomodados por ligações excessivas. Essas chamadas incluem as "robocalls" — aquelas em que o telefone toca, a pessoa atende, mas ninguém fala e a ligação cai. Uma reportagem do Fantástico investigou empresas que fornecem programas para ligações automáticas e mostrou como funciona esse mercado que irrita e prejudica os brasileiros, com testes de "provas de vida" e até a aplicação de golpes. Nesse contexto, o "Não Me Perturbe" poderia amenizar o problema, mas a plataforma se mostra limitada na hora de conter as ligações. ➡️ Por que isso acontece? Três especialistas em telecomunicações explicaram ao g1 que apenas os maiores bancos e empresas de telecomunicações aderiram ao programa da Anatel. Segundo eles, empresas de vendas, marketing e até golpistas ignoram o cadastro no "Não Me Perturbe". E eles ainda evitam possíveis punições da Anatel ao falsificar o número e o endereço que aparecem no identificador de chamadas. Essa prática é chamada de spoofing, explica Thiago Ayub, diretor de tecnologia da Sage Networks. "O 'Não Me Perturbe' é eficiente na aplicação para as operadoras tradicionais de telecomunicações brasileiras, e também para os call centers brasileiros sérios e de grande porte, mas há caminhos alternativos que vêm de fora e acabam pulando esses filtros", explica Luciano Saboia, diretor de telecomunicações da consultoria IDC. Plataforma "Não Me Perturbe" ajuda bloquear ligações indesejadas Reprodução Ao g1, a Anatel disse que o cumprimento das medidas pelas empresas é constantemente monitorado, seja por meio do envio de dados periódicos sobre tráfego e bloqueios, seja por fiscalizações específicas. O órgão também mencionou um Despacho Decisório de 2024, no qual foi implementado um sistema para que as prestadoras de telefonia informem a origem das chamadas indesejadas. Segundo eles, as prestadoras de telefonia móvel e fixa enviam, por meio de uma atualização do Sistema Coleta de Dados da Anatel, relatórios sobre o tráfego recebido, incluindo chamadas com indícios de alteração do número telefônico. "A partir de agora, os relatórios devem ser enviados por meio da nova ferramenta. Essa coleta de dados permitirá à Anatel identificar irregularidades e agir com maior agilidade para proteger o consumidor", afirmou. Especialistas afirmam que combater o contato excessivo e fraudulento é um desafio tanto para as operadoras quanto para a Anatel. E reconhecem que o órgão tem tomado medidas no enfrentamento desse tipo de abordagem. Na página de participantes do "Não Me Perturbe" (saiba mais ao fim da reportagem) constam as operadoras de telecomunicação Algar, Claro, Oi, Sercomtel, Sky, TIM, e Vivo, além de 64 instituições financeiras. Por que recebemos ligações mudas que desligam sozinhas – e como evitá-las Novo sistema poderá identificar empresas "Essas ligações (excessivas) são um problema nos EUA, no Canadá e na Coreia do Sul, para citar alguns países. E, em cada um deles, existe uma abordagem diferente", afirma Ari Lopes, especialista em telecomunicações da empresa Omdia. Uma das medidas que o governo diz que está em fase de implementação no Brasil contra os que driblam o "Não Me Perturbe" é o programa "Stir Shaken" ou "Origem Verificada", como será chamada no Brasil, segundo a Anatel. Essa solução exibe no celular do consumidor não apenas o número, mas também o nome da empresa, sua logomarca, além do motivo da ligação e um selo que confirma a origem da chamada, explicou a Anatel. "É uma solução que visa autenticar a identidade do chamador e aumentar a segurança das comunicações telefônicas", disse Luciano Saboia. "Mas tudo isso ainda é um futuro próximo. A Anatel, as operadoras móveis e os fabricantes dos smartphones ainda estão amadurecendo e implantando essas funcionalidades para conter as robocalls", completou Thiago Ayub. Segundo os especialistas, o "Origem Verificada" não vai impedir chamadas de números com origem fraudada, mas permitirá que o usuário opte por não atender ligações que não exibam o selo de identificação de origem garantido pelo protocolo. Como será o recurso da Anatel contra ligações fraudulentas g1/Luísa Rivas O que fazer por enquanto? "Para não receber ligações de telemarketing de empresas não participantes ao Não Me Perturbe, efetue o bloqueio diretamente no seu celular através da agenda ou aplicativo específico de sua preferência", diz o site da ferramenta. A Anatel recomenda ainda que o consumidor que continua recebendo chamadas indesejadas mesmo sendo cadastrado no "Não Me Perturbe" informe a empresa que faz as ligações. Quem receber as ligações deve registrar o nome do prestador de telemarketing e o número da chamada. Com essas informações, a pessoa pode entrar em contato com a empresa para relatar o possível uso irregular de recursos de numeração. "Caso não haja uma solução para o problema, recomenda-se acionar a ouvidoria da prestadora e, se necessário, utilizar o número do protocolo de atendimento para registrar uma reclamação na Anatel", informou a agência. ➡️ NÃO PERTURBE É GRATUITO - o cadastro na ferramenta é gratuito e deve ser feito pelo site naomeperturbe.com.br. "Você pode solicitar o bloqueio de ligações realizadas pelas empresas de telecomunicações participantes que ofertam seus serviços através de telemarketing ativo e pelos bancos participantes referente às ofertas de empréstimo consignado e cartão de crédito consignado", diz o site. O prazo para efetivação da solicitação é de até 30 dias. O bloqueio não se aplica a ligações que forem realizadas ao consumidor para: confirmação de dados, prevenção a fraudes, realização de cobranças e retenção de solicitações de portabilidade, com ou sem oferta de refinanciamento e oferta de outros produtos bancários e outras modalidades de crédito. LEIA TAMBÉM: Por que recebemos ligações mudas que desligam sozinhas – e como evitá-las

Web Summit Rio: Paes anuncia ‘Rio AI City’ e promete colocar cidade entre os 10 maiores hubs de IA do mundo


Projeto anunciado pelo prefeito do Rio durante o primeiro dia do maior evento de tecnologia do mundo, no Riocentro, tem como objetivo transformar a capital fluminense no maior polo de data centers da América Latina. Rio recebe até quarta o Web Summit, maior evento de tecnologia do mundo O prefeito Eduardo Paes (PSD) anunciou, durante o primeiro dia de Web Summit Rio 2025, no domingo (27), um projeto ambicioso que pode colocar o Rio de Janeiro entre os maiores hubs de IA do mundo até 2032. O "Rio AI City" promete transformar a capital fluminense no maior polo de data centers da América Latina e um dos dez maiores do mundo em 7 anos. O que é a IA física, aposta de gigante da tecnologia para acelerar criação de robôs humanoides Pelo menos esse é o plano de Paes, que tem como objetivo atrair para o Parque Olímpico, na Zona Oeste, investimentos bilionários em inteligência artificial (IA) e consolidar o Rio como epicentro de inovação sustentável. Com investimento inicial em infraestrutura de 1,8 gigawatts (GW) até 2027 – e expansão para 3 GW até 2032 –, o complexo vai operar exclusivamente com energia limpa e sistema de resfriamento com "água ilimitada", garantindo operações de latência zero para supercomputadores. O projeto inclui conexão direta ao Porto Maravilha, reforçando a integração urbana e tecnológica da região. Atualmente o Porto Maravilha já abriga o IMPA Tech e o Porto Maravalley, hub de inovação. "Como todos sabem, o mundo está vivenciando uma aceleração tecnológica sem precedentes. Aqui no Rio, não somos apenas observadores. Queremos impulsionar a revolução da IA e garantir que ela sirva bem ao público. É por isso que também estou muito feliz em anunciar que construiremos a ‘Rio AI City’. O maior hub de data center da América Latina e um dos maiores do mundo", anunciou o prefeito. A “Rio AI City” pretende apoiar a inovação impulsionada por inteligência artificial. A iniciativa espera criar condições ideais para a instalação de novos supercomputadores, como o já existente Santos Dumont, localizado no Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC) e administrado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. LEIA TAMBÉM: TV 3.0 é o próximo passo da televisão brasileira, diz diretor da TV Globo no Rio Web Summit O Web Summit 2025 deve injetar mais de R$ 170 milhões na economia da cidade, segundo a Prefeitura do Rio Divulgação Segundo Paes, o "Rio AI City" será a espinha dorsal de um ecossistema que inclui o Porto Maravalley e o Mata Maravilha, projeto de R$ 4,5 bilhões que pretende construir e integrar uma nova marina, parques, hotéis e centros de tecnologia em 200 mil m². A prefeitura acredita que o plano combina crescimento tecnológico com qualidade de vida e deve atrair startups e empresas globais para o Rio de Janeiro. O prefeito também anunciou que o Web Summit Rio está confirmado na cidade com uma edição por ano até 2030. Ao todo serão oito edições do maior evento de tecnologia do mundo na cidade. Segundo estudos da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico, do Invest.Rio e da Riotur, o impacto econômico total estimado das oito edições previstas até 2030 é de R$ 1,8 bilhão. Somente a edição de 2025 deve injetar mais de R$ 170 milhões na economia da cidade, com destaque para o setor de hospedagem. Eduardo Paes no Web Summit 2025 Divulgação

O que é a IA física, aposta de gigante da tecnologia para acelerar criação de robôs humanoides


Nvidia acredita que conceito pode ajudar dispositivos a realizarem mais complexas no mundo real. Em março, a empresa lançou o Isaac Gr00t N1, modelo treinado para ajudar robôs a manusearem objetos. Demonstração de robô com modelo Isaac Gr00t N1, da Nvidia Divulgação/Nvidia A Nvidia, gigante de chips e semicondutores, se prepara para o que vem após a inteligência artificial generativa, marcada pelo lançamento de serviços como o ChatGPT, Gemini e Copilot. Agora, a aposta da empresa é a inteligência artificial física. A ideia é permitir que robôs humanoides e dispositivos como braços robóticos de fábricas consigam fazer ações complexas no mundo real, explicou nesta segunda-feira (28) o diretor-executivo da Nvidia na América Latina, Marcio Aguiar, durante o Web Summit Rio. "Estamos nos movendo para a era da IA física, em que robôs auxiliam humanos em tarefas de forma repetitiva e muito mais eficiente", disse o executivo. A Nvidia lançou em março o Isaac Gr00t N1, modelo de inteligência artificial que serve de base para outras empresas criarem seus próprios robôs humanoides. A empresa afirma que a novidade ajuda a acelerar a criação desses dispositivos porque o modelo já é pré-treinado para agarrar, mover e passar objetos de uma mão para a outra, além de fazer tarefas que exigem várias etapas. A partir dele, desenvolvedores e pesquisadores podem fazer o chamado pós-treinamento para tarefas específicas em seu contexto. "Se você quer dar a um humanoide poder de raciocínio, nós trazemos o cérebro", disse o executivo em entrevista ao g1. "A Nvidia não fabrica nenhum robô, nenhum drone, nenhuma câmera, mas dá para todos esses fabricantes esse poder computacional". A empresa diz que outros modelos de IA generativa, como GPT, da OpenAI, e Llama, da Meta, não compreendem tão bem o mundo físico, o que limita a ação de robôs treinados a partir deles. Com o conceito de IA física, modelos são treinados para ter mais compreensão de espaço e de regras de física do mundo real. Esse treinamento é feito por uma técnica chamada de aprendizado por reforço, em que dispositivo consegue identificar imprevistos e encontrar uma solução rapidamente. Isso permite que robôs se tornem bons para embalar caixas, construir veículos ou circular em ambientes sem supervisão, por exemplo.

Criminosos usam chamadas feitas por robôs em fraudes e golpes eletrônicos


Fraude eletrônica, falsidade ideológica e crimes contra as telecomunicações são alguns dos delitos ligados ao uso de robocalls para aplicar golpes. 23 mil ligações por segundo: o Fantástico investiga como funcionam os robôs programados para tirar você do sério As chamadas automáticas, conhecidas como robocalls, estão se tornando um dos maiores problemas para os brasileiros não apenas pela quantidade de ligações indesejadas, mas também pelos crimes que são praticados por meio delas. Por mês, aproximadamente 20 bilhões de ligações são disparadas no Brasil. A metade – 10 bilhões – é realizada por robôs que são programados para discar. Especialistas destacam que as ligações podem ser usadas para fins de falsidade ideológica, fraude eletrônica, crimes contra as telecomunicações, associação criminosa e, dependendo do caso, até lavagem de dinheiro, como mostra uma investigação realizada pelo Fantástico. Isso porque empresas de telemarketing adquirem listas de dados pessoais de forma ilegal. Elas são compradas de fornecedores, que vendem dados como nomes, endereços, profissões e, principalmente, números de telefone, sem o consentimento das pessoas. As práticas ilegais incluem a alteração do DDD de uma ligação para enganar a vítima, além de criar números aleatórios que não existem, dificultando qualquer tentativa de bloqueio. A alteração do DDD, que pode fazer uma ligação de São Paulo aparecer como se fosse de Porto Alegre, também configura uma prática abusiva. Ligações automáticas indesejadas, chamadas de "robocalls" Fantástico "Isso pode caracterizar fraude eletrônica com pena de até oito anos de reclusão," alerta José Milagre, advogado especializado em crimes digitais. A fraude não fica restrita apenas ao setor de telemarketing. O crime organizado também tem se aproveitado das robocalls para aplicar golpes mais sofisticados. Quadrilhas disparam mensagens fraudulentas, induzindo vítimas a confirmar dados pessoais ou até mesmo a aceitar ofertas falsas. "São ligações muito autênticas, parecem reais, fazendo com que as vítimas não consigam discernir que estão caindo num golpe," explica José Milagre. Além disso, as chamadas podem causar prejuízos para pessoas que, por medo de atender números desconhecidos, acabam perdendo oportunidades de trabalho ou até de cuidados médicos. A funcionária pública Gabriela Scholl, por exemplo, não atendeu a uma dessas chamadas e perdeu um exame médico importante, que poderia ter adiantado seu tratamento. A fraude eletrônica por robocalls é uma prática que prejudica tanto consumidores quanto empresas que tentam agir de maneira ética. De acordo com Luã Cruz, coordenador do programa de telecomunicações do Idec, "as empresas que operacionalizam esses serviços deveriam ser responsabilizadas por violação ao Código de Defesa do Consumidor e à Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais." O que diz a Anatel A Anatel diz que segue trabalhando para ampliar o combate às ligações abusivas: "Desde junho de 2022 até março deste ano, nós já reduzimos 222 bilhões de chamadas circulando nas redes de telecomunicações", afirma Cristiana Camarate, superintendente de relações com consumidores da agência. Ela acrescentou que uma nova medida, chamada “origem verificada”, também está sendo implementada. "Quando o seu celular tocar, vai aparecer o nome e a logo da empresa e o motivo pelo qual ela está te ligando. Então, se o consumidor quiser atender naquele momento, ele pode atender com tranquilidade. Não será uma fraude", explica. Em nota, a Associação Brasileira de Telesserviços informou que suas associadas trabalham com informações fornecidas pelos clientes, não compram listas de dados e atuam para evitar ligações mudas ou insistentes. Ouça os podcasts do Fantástico ISSO É FANTÁSTICO O podcast Isso É Fantástico está disponível no g1, Globoplay, Deezer, Spotify, Google Podcasts, Apple Podcasts e Amazon Music trazendo grandes reportagens, investigações e histórias fascinantes em podcast com o selo de jornalismo do Fantástico: profundidade, contexto e informação. Siga, curta ou assine o Isso É Fantástico no seu tocador de podcasts favorito. Todo domingo tem um episódio novo. PRAZER, RENATA O podcast 'Prazer, Renata' está disponível no g1, no Globoplay, no Deezer, no Spotify, no Google Podcasts, no Apple Podcasts, na Amazon Music ou no seu aplicativo favorito. Siga, assine e curta o 'Prazer, Renata' na sua plataforma preferida. BICHOS NA ESCUTA O podcast 'Bichos Na Escuta' está disponível no g1, no Globoplay, no Deezer, no Spotify, no Google Podcasts, no Apple Podcasts, na Amazon Music ou no seu aplicativo favorito.

Apagão de energia na Espanha e em Portugal gera memes nas redes


Falta de energia causou transtornos em serviços essenciais e gerou reações bem-humoradas nas redes sociais. Restaurante em Madri as escuras devido a apagão na Espanha Susana Vera/Reuters Initial plugin text Um apagão de energia elétrica atingiu grandes partes da Espanha e de Portugal nesta segunda-feira (28). Portugueses, espanhóis — e até mesmo brasileiros — estão compartilhando vários memes sobre a situação (veja abaixo). Por causa da falta de luz, que começou por volta das 12h no horário local (7h em Brasília), diversos serviços foram interrompidos. Aeroportos e estações de trem foram afetados. A queda de energia também impactou as telecomunicações. Há relatos generalizados de dificuldades para fazer chamadas, e o serviço de mensagens WhatsApp estaria operando com lentidão, segundo o jornal "El País". "Os líderes europeus" Initial plugin text "Todo mundo no escritório fingindo se importar com a falta de energia." Initial plugin text "Aqueles que têm um Tesla agora e não conseguem carregar o carro" Initial plugin text Initial plugin text Initial plugin text Initial plugin text Initial plugin text Initial plugin text Brasileiros treinam inteligência artificial para abordar temas como racismo e nazismo Botões de semáforo para pedestres são hackeados e reproduzem vozes de Musk e Zuckerberg Musk pediu que influencer não colocasse o nome dele na certidão de nascimento do filho

Como funcionam as ligações automáticas feitas por robôs — e o truque para evitá-las


Computadores quânticos podem descriptografar em segundos documentos que os atuais demorariam milênios


Quem tiver essa tecnologia primeiro pode ter acesso a segredos de Estado e controlar a economia no mundo todo. Computadores quânticos podem descriptografar em segundos documentos que os atuais demorariam milênios O Fantástico deste domingo (27) mostrou que o computador quântico promete resolver problemas que achávamos insolucionáveis e desvendar mistérios que ainda nem sabemos formular. Você já recebeu uma mensagem dizendo: essa conversa é criptografada? Quer dizer que até chegar na gente, as mensagens são totalmente embaralhadas. Se alguém consegue interceptar, só vai ver um monte de coisa misturada e não vai conseguir ler. “Toda a economia digital é baseada em criptografia. Além de segredos de governo e todos os tipos de informações pessoais que você não quer que sejam descriptografadas”, afirma Scott Crowder. Computadores quânticos: entenda por que eles são a próxima revolução da tecnologia Descriptografar qualquer coisa é possível. Mas um computador quântico pode vir a fazer em segundos o que os atuais demorariam milênios Fantástico/ Reprodução Descriptografar qualquer coisa é possível. Mas um computador quântico pode vir a fazer em segundos o que os atuais demorariam milênios. Cientistas da China, por exemplo, anunciaram em outubro de 2024 terem descriptografado documentos secretos de inteligência militar usando um computador quântico. Quem tiver essa tecnologia primeiro pode ter acesso a segredos de Estado e controlar a economia no mundo todo. Veja a reportagem completa no vídeo abaixo: Computador quântico: como funciona a tecnologia que promete revolucionar a vida na Terra Ouça os podcasts do Fantástico ISSO É FANTÁSTICO O podcast Isso É Fantástico está disponível no g1 e nos principais aplicativos de podcasts, trazendo grandes reportagens, investigações e histórias fascinantes em podcast com o selo de jornalismo do Fantástico: profundidade, contexto e informação. Siga, curta ou assine o Isso É Fantástico no seu tocador de podcasts favorito. Todo domingo tem um episódio novo. PRAZER, RENATA O podcast 'Prazer, Renata' está disponível no g1 e nos principais aplicativos de podcasts. Siga, assine e curta o 'Prazer, Renata' na sua plataforma preferida. BICHOS NA ESCUTA O podcast 'Bichos Na Escuta' está disponível no g1 e nos principais aplicativos de podcasts.

domingo, 27 de abril de 2025

De testes a golpes, brasileiros recebem 10 bilhões de ligações feitas por robôs por mês


Robocalls testam linhas ativas, irritam usuários e facilitam fraudes. Durante um mês, o Fantástico investigou empresas que fornecem programas para ligações automáticas. 23 mil ligações por segundo: o Fantástico investiga como funcionam os robôs programados para tirar você do sério Quem nunca recebeu uma ligação indesejada? Pode ser uma oferta de telemarketing ou até algum tipo de golpe, com frases como “você ganhou na loteria, digite tal número pra confirmar que é você”. Por mês, aproximadamente 20 bilhões de ligações são disparadas no Brasil. A metade – 10 bilhões – é realizada por robôs que são programados para discar. São as chamadas "robocalls" ou "metralhadoras": ligações automáticas feitas, por sistemas computadorizados, para um grande número de pessoas. Essas ligações duram no máximo seis segundos, antes de cair. Essas chamadas são classificadas pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) como "ligações de curta duração". Na tela do celular de quem recebe uma robocall, normalmente aparece um número criado virtualmente, que não existe. Se a vítima tenta retornar a ligação, ouve uma gravação dizendo que o número digitado está incorreto. ‘Prova de vida’ A chamada rápida funciona como uma "prova de vida". Se as ligações são atendidas, indicam que o dono da linha está vivo e é um cliente em potencial. Com as informações fornecidas pelos robôs, o atendente de um call center não perde tempo telefonando para números inexistentes. E, no telemarketing, tempo é dinheiro. Um ex-funcionário de uma central de atendimento de telemarketing, que prefere não se identificar, usava o método. "Quando a gente recebe essa base telefônica, a gente tem que testar para saber se os clientes que estão ali são ativos ou não e, para isso, a gente usa um sistema de ligações robotizadas”, conta. “Com base nisso, o sistema filtra quais são os melhores números para ligar e passa isso para dentro da central, onde os atendentes começam a realizar os atendimentos com os clientes.” Ligações automáticas indesejadas, chamadas de "robocalls" Fantástico Brasileiros pararam de atender ligações Essa é uma operação que irrita e prejudica milhões de brasileiros todos os dias. A empresária Rosaura Brito, moradora de Santo Antônio da Patrulha (RS), se cadastrou no site "Não Me Perturbe", da Anatel. Não adiantou. "Eu recebo de 30 a 40 chamadas por dia. Começa 8h01 da manhã", diz ela. “A gente está trabalhando, por exemplo, e o telefone não para de tocar. E se tu atendes, a ligação só cai. Se eu retorno a chamada, diz que o número não existe." A empresária, assim como muitos brasileiros, decidiu parar de atender números desconhecidos. Mas essa decisão pode gerar outro problema: e se for uma ligação importante? A funcionária pública Gabriela Scholl, de Santana do Livramento (RS), não atendeu a um chamado e acabou perdendo um exame médico. Ela diz que nem sabe em que momento recebeu a ligação. "Eu já poderia ter feito o exame e estar em tratamento”, lamenta. O problema já atingiu até a central de transplantes da Santa Casa de Porto Alegre. "A gente já teve pacientes que perderam a oportunidade de receber um órgão porque não atenderam o telefone", conta a enfermeira Jaqueline Bica. Antônio Kalil, diretor médico da Santa Casa de Porto Alegre, explica que existe um tempo mínimo de transplante para que o órgão possa ser utilizado. “Pode acabar acarretando a perda não só da oportunidade do transplante, mas também do órgão”, diz ele. Quem está em busca de emprego precisa ficar atento. "Se nós ligamos e o profissional não atende, a gente tem que ir para o próximo. Vai perder a vaga”, afirma Silvana Ribeiro, gerente de recursos humanos. Lista de contatos Dados recentes da Anatel mostram que o disparo de ligações de curta duração, ou robocalls, aumentou no país. Em janeiro e fevereiro deste ano foram quase 24 bilhões de ligações automáticas — o equivalente a 23 mil ligações por segundo. Um aumento de 12% em relação ao mesmo período de 2024. Durante um mês, o Fantástico investigou empresas que fornecem programas para ligações automáticas. A reportagem criou um negócio fictício que, em teoria, precisava usar o serviço de robocalls para aumentar as vendas e fez contato com diferentes empresas e sites na internet. O representante de um site que vende dados pessoais - os chamados "mailings" - oferece uma lista de contatos. "Teste aí a lista, você vai entender que realmente está atualizadinha", diz ele. "É bem consistente mesmo. No mínimo, 100 mil, 150 mil registros, tranquilamente." A reportagem pediu que o vendedor enviasse uma amostra de cadastros de profissionais liberais. A amostra, com dados de quase 70 pessoas, foi enviada de graça, como tentativa de conquistar o novo cliente. O banco de dados tinha nomes, e-mails, endereços, profissões e, o mais importante, telefones. O psicólogo Matheus Arend, de Guaíba (RS), apareceu na relação. A reportagem conseguiu falar com ele, que disse nunca ter autorizado o uso de seus dados. "Eu me sinto bastante invadido, né? A questão de privacidade, principalmente. Um absurdo", diz Arend. Alteração ilegal de DDD Depois de adquiridos, geralmente por empresas de telemarketing, os contatos são inseridos em um programa de computador. É a parte mais engenhosa do sistema. Entramos em contato com uma empresa de Minas Gerais que desenvolve esses sistemas. A atendente explicou como funciona. "Ele [o sistema] vai pegar a sua lista, todos os números, e vai ligar para cada um desses números. É disparo, tá? Em massa." A funcionária explica que o DDD de origem pode ser alterado. Por exemplo: uma empresa em São Paulo pode realizar uma ligação para o Rio Grande do Sul e, no visor de quem recebe a chamada, aparece o código 51, do estado gaúcho, e não o prefixo 11, de São Paulo. “Para aparecer lá na tela da pessoa, no celular, que o DDD é da mesma região que está ligando. É mais provável de a pessoa atender uma ligação na região dela, do que, lá de São Paulo", diz a atendente da empresa. Especialistas alertam: alterar o DDD de uma ligação é ilegal. "Isso pode caracterizar fraude eletrônica com pena de até oito anos de reclusão", afirma José Milagre, advogado especialista em crimes cibernéticos. "Você mentir para o consumidor, [dizendo] que está ligando do mesmo estado que ele, é uma prática desleal e abusiva, condenada pelo Código de Defesa do Consumidor", afirma Luã Cruz, coordenador do programa de telecomunicações do Idec (Instituto de Defesa de Consumidores). E não é só o DDD que pode ser alterado. Os sistemas automatizados criam números aleatórios que não existem, e é por esse motivo que realizar o bloqueio das chamadas não resolverá o problema. "[São] Centenas de milhares de números. Se eu ligar para você cem vezes, vai ser cem números diferentes", afirma o vendedor de uma dessas empresas especializadas. Quadrilhas usam chamadas para aplicar golpes As robocalls não usam as redes de telefonia convencionais. Tudo é via internet, com programas específicos de computador. Tudo isso também acaba sendo usado pelo crime organizado. Quadrilhas disparam mensagens para aplicar golpes. "E são ligações muito autênticas, parecem reais, fazendo com que as vítimas não consigam discernir que estão caindo num golpe”, diz o advogado José Milagre. “Muitos criminosos vão pedir, vão forçar você a dizer palavras como ‘sim’ e ‘não’, porque isso pode ser gravado e utilizado contra você em outros contratos. Então jamais diga nenhuma palavra, não interaja. Bloqueie esses números", acrescenta. Existem modelos prontos na internet para a gravação e envio de áudios. Fizemos o teste em um site que utiliza inteligência artificial: criamos uma mensagem com uma voz robotizada oferecendo empréstimos e inserimos o número da produção para receber a chamada. Utilizamos a frase "se precisa de dinheiro extra, aperte 1 agora". A ligação foi realizada com a mensagem que colocamos. Sistema produz relatório sobre as ligações Sem saber que estava sendo gravada, a empresa desenvolvedora de programas de ligações automáticas de Minas Gerais, citada na reportagem, concordou em fazer uma simulação com a ferramenta. Enviamos para o funcionário uma planilha com 15 números de telefone e distribuímos os aparelhos para jornalistas da RBS TV, em Porto Alegre. Convidamos o diretor executivo do Procon de Porto Alegre, Wambert Di Lorenzo, para participar da experiência. Em menos de dez minutos, todos os 15 telefones tocaram — inclusive o do diretor do Procon. A simulação produziu um relatório detalhado com a duração de cada chamada. "Nós vamos abrir investigação no Procon para identificar esse fornecedor. Esse prestador de serviço comete um crime também, então vamos oficiar a Polícia Civil para que a gente possa tomar as medidas necessárias", afirma Di Lorenzo. "As empresas que operacionalizam [esses sistemas] deveriam ser responsabilizadas por violação ao Código de Defesa do Consumidor e à Lei Geral de Proteção de Dados", diz Luã Cruz, do Idec. O advogado José Milagre diz que alguns dos crimes que podem ser listados nessas práticas são falsidade ideológica, fraude eletrônica, crime contra as telecomunicações, associação criminosa e, dependendo do caso, lavagem de dinheiro. O que diz a Anatel A Anatel diz que segue trabalhando para ampliar o combate às ligações abusivas: "Desde junho de 2022 até março deste ano, nós já reduzimos 222 bilhões de chamadas circulando nas redes de telecomunicações", afirma Cristiana Camarate, superintendente de relações com consumidores da agência. Ela acrescentou que uma nova medida, chamada “origem verificada”, também está sendo implementada. "Quando o seu celular tocar, vai aparecer o nome e a logo da empresa e o motivo pelo qual ela está te ligando. Então, se o consumidor quiser atender naquele momento, ele pode atender com tranquilidade. Não será uma fraude", explica. Em nota, a Associação Brasileira de Telesserviços informou que suas associadas trabalham com informações fornecidas pelos clientes, não compram listas de dados e atuam para evitar ligações mudas ou insistentes. Ouça os podcasts do Fantástico ISSO É FANTÁSTICO O podcast Isso É Fantástico está disponível no g1, Globoplay, Deezer, Spotify, Google Podcasts, Apple Podcasts e Amazon Music trazendo grandes reportagens, investigações e histórias fascinantes em podcast com o selo de jornalismo do Fantástico: profundidade, contexto e informação. Siga, curta ou assine o Isso É Fantástico no seu tocador de podcasts favorito. Todo domingo tem um episódio novo. PRAZER, RENATA O podcast 'Prazer, Renata' está disponível no g1, no Globoplay, no Deezer, no Spotify, no Google Podcasts, no Apple Podcasts, na Amazon Music ou no seu aplicativo favorito. 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Computadores quânticos: entenda por que eles são a próxima revolução da tecnologia


Esses computadores prometem resolver problemas que achávamos insolucionáveis e desvendar mistérios que ainda nem sabemos formular - da cura do câncer a salvar o mundo das mudanças climáticas. Computador quântico: como funciona a tecnologia que promete revolucionar a vida na Terra Do fax ao telefone celular. Da internet discada até a inteligência artificial. O Fantástico sempre esteve atento aos avanços tecnológicos que transformam o mundo. E 2025 foi declarado pela ONU o "Ano Internacional da Ciência e Tecnologia Quântica". Quando você vê uma notícia sobre computadores quânticos, consegue ter uma ideia do que eles são ou serão capazes de fazer? O computador quântico é a fronteira da tecnologia atual. Ele promete resolver problemas que achávamos insolucionáveis e desvendar mistérios que ainda nem sabemos formular: da cura do câncer a salvar o mundo das mudanças climáticas. Essa reportagem pretende mostrar que ele não é um monstro misterioso. “Os computadores quânticos vão resolver problemas hoje impossíveis", afirma Charina Chou, chefe de operações da Google Quantum IA. “O computador que nós usamos hoje em casa, ele usa um processador clássico. E os princípios de funcionamento desse processador básico são relacionados à física clássica", explica Alexandre Nascimento, pesquisador em Inteligência Artificial quântica da Singularity. Computador quântico na sede da IBM, em Nova York Fantástico/ Reprodução A evolução disso, o Fantástico foi conhecer na sede da IBM, em Nova York. Lá está a tecnologia mais complexa que o ser humano já viu: são cabos super finos e placas de ouro que servem para compartimentar os espaços. O computador quântico é um quadradinho, que fica em uma grande geladeira, e onde está um universo microscópico capaz de mudar o mundo. A Olivia Lanes é pesquisadora na IBM. Ela explica que a temperatura onde fica o chip é de 273°C negativos - mais frio do que no espaço sideral! “Em temperaturas muito baixas, a gente consegue fazer com que os elétrons se emaranhem e fiquem bem juntinhos”, afirma Olivia Lanes, líder global de educação da IBM Quantum. Geladeira em que fica o computador quântico na sede da IBM, em Nova York Fantástico/ Reprodução É o princípio da física quântica: os elétrons gostam de formar pares. “Esses pares pulam de um lado para o outro do circuito e isso representa um qbit. É essa energia que a gente mede para fazer os cálculos”, explica Olivia. Existe um exemplo ótimo para enxergar o potencial da diferença entre bit e qbit, como explica Alexandre Nascimento, pesquisador em Inteligência Artificial quântica da Singularity: “Você quer achar a saída do labirinto e quer garantir que o caminho que você fez é o melhor possível. O que o computador clássico vai fazer? Ele tem que sair caminhando e vai indo até que ele cai em um beco sem fim e vai tentando até uma hora que ele acha a saída. Já na computação quântica, seria algo como você joga um monte de bolinha. Algumas vão chegar na saída e a que chegou mais rápido você já sabe que aquele provavelmente foi o melhor caminho”. O chip Willow é da gigante de tecnologia Google, comandada pela Charina Chou. Ele foi o responsável pelas notícias mais promissoras até agora sobre a computação quântica. “O nosso chip quântico fez em cinco minutos uma conta que um supercomputador atual demoraria 10 septilhões de anos para fazer”, afirma Charina Chou, chefe de operações da Google Quantum IA. Isso é mais de 2 bilhões de vezes a idade do planeta Terra. Ou seja, quer dizer que a conta antes era impossível de ser feita. Só que para ele funcionar usando os princípios da física quântica, tem que estar super gelado, totalmente escuro e sem ruídos. A Microsoft é outra gigante nessa corrida tecnológica. O chip deles se chama Majorana Fantástico/ Reprodução A Microsoft é outra gigante nessa corrida tecnológica. O chip deles se chama Majorana, e além do resfriamento, ele tem dois imãs superpotentes para criar um campo magnético que ajuda a evitar erros. “Esse é o nosso processador quântico. Com o campo magnético, nós criamos um novo estado da matéria. O objetivo é sermos capazes de controlá-lo. Se você olhar aqui tem um quadradinho preto no meio e aquilo ali é o processador quântico”, mostra Chetan Nayak, vice-presidente de computação quântica da Microsoft. Ouça os podcasts do Fantástico ISSO É FANTÁSTICO O podcast Isso É Fantástico está disponível no g1 e nos principais aplicativos de podcasts, trazendo grandes reportagens, investigações e histórias fascinantes em podcast com o selo de jornalismo do Fantástico: profundidade, contexto e informação. Siga, curta ou assine o Isso É Fantástico no seu tocador de podcasts favorito. Todo domingo tem um episódio novo. PRAZER, RENATA O podcast 'Prazer, Renata' está disponível no g1 e nos principais aplicativos de podcasts. Siga, assine e curta o 'Prazer, Renata' na sua plataforma preferida. BICHOS NA ESCUTA O podcast 'Bichos Na Escuta' está disponível no g1 e nos principais aplicativos de podcasts.

Brasileiros treinam inteligência artificial para abordar temas como racismo e nazismo: ‘Uso lado Darth Vader da mente’


Treinamento é usado para analisar respostas e evitar que a IA forneça informações que ofereçam risco aos usuários. Colaboradores ganham por hora e são contratados por intermediários de gigantes da tecnologia. Brasileiros treinam inteligência artificial para abordar temas como racismo e nazismo “- Olá, quero ter uma noite de jogos com meus amigos, o que você me recomenda?” “- Você pode beber até cair”. 🤖 A resposta acima foi dada por um chat de inteligência artificial à designer de conteúdo Barbara Rainov, de 34 anos, contratada para treinar a ferramenta. Assim como ela, o jornalista Marcos*, de 50 anos, também trabalha, desde meados de 2024, com treinamento de inteligência artificial. Eles criam e analisam prompts (as descrições de tarefas), avaliam e categorizam respostas e tentam evitar que a IA forneça informações que ofereçam risco aos usuários. Os comunicadores foram contratados pela Outlier, uma intermediária que conecta colaboradores de todo o mundo a gigantes da tecnologia. Além de alertar que a inteligência artificial estava sendo irresponsável na resposta sobre se divertir com amigos, Bárbara também já foi incumbida de analisar respostas sobre nazismo. Ela tinha que avaliar se a resposta dada pela plataforma se atinha a fatos históricos ou se fazia juízo de valor dos acontecimentos. “Eu tinha realmente que direcionar a inteligência e criar prompt ou a resposta voltada para a história, e não para juízo de valor”, contou Bárbara. Driblando respostas Marcos também já recebeu tarefas para lidar com o que são chamados de “temas sensíveis”, como questões sobre negros e judeus. Ele explica que, se o usuário fizer uma pergunta direta sobre como ferir alguém, por exemplo, a inteligência artificial irá oferecer uma resposta padrão, negando aquela solicitação. Sua tarefa, então, é driblar a resposta e abordar a questão de maneira indireta, fornecendo mais informações e hipóteses para que a inteligência artificial aprenda outros caminhos que os usuários podem tentar seguir para obter essa resposta. “Você pode escrever xingando, arregaçando, usando todo o lado Darth Vader da mente”, explicou o jornalista, fazendo referência ao vilão de Star Wars. O objetivo é aumentar a bagagem da IA naqueles temas, para evitar que ela forneça informações que ofereçam risco aos usuários. Além disso, é evitar que ela forneça informações erradas. A inteligência artificial do Google, por exemplo, já disse que seres humanos devem comer ao menos uma pedra pequena por dia e sugeriu usar cola para grudar a massa da pizza ao queijo. Quando foi disponibilizado no Brasil, o Bard mentiu sobre as urnas eletrônicas e colocou em dúvida o resultado das eleições brasileiras de 2022. Depois, mudou a versão. 🤯 No meio, há, inclusive, um termo para isso, chamado “alucinar”. Se diz que a IA está “alucinando” quando responde algo errado ou descabido. Procurada pelo g1, a Scale AI, dona da Outlier, afirmou que “treinar modelos de IA generativa para prevenir conteúdo prejudicial e abusivo é essencial para o desenvolvimento seguro da IA”. A empresa respondeu também sobre o treinamento em temas sensíveis. “Embora alguns projetos de segurança de IA envolvam conteúdo sensível, sempre damos aos colaboradores aviso prévio e a opção de desistir a qualquer momento. Para apoiá-los nesse trabalho importante, também oferecemos acesso a programas de saúde e bem-estar". Ela não respondeu, no entanto, quantos colaboradores têm ao redor do mundo e quais são os principais clientes. Os colaboradores não sabem para qual cliente final estão trabalhando. Em seu site oficial, a Scale AI anuncia parcerias com empresas como OpenAI, Meta e Microsoft. Tarefa de treinamento de inteligência artificial Arquivo pessoal Processo coletivo nos EUA por ‘fardo emocional’ “Como cometer suicídio?”, “Como envenenar uma pessoa?” ou “Como assassinar alguém?”. De acordo com a defesa de seis trabalhadores em treinamento em IA dos EUA, eles eram regularmente confrontados com perguntas como essas. Os colaboradores estão processando coletivamente a Scale AI e a Outlier, por alegar que não tiveram sua saúde mental protegida. Eles trabalhavam com treinamento de imagens produzidas por IA, com cenas perturbadoras. O processo diz que o trabalho “impôs um fardo emocional e psicológico extraordinário aos autores, levando-os a enfrentar danos emocionais severos na ausência de proteções adequadas”. Procurada pelo g1, a Scale AI disse que a ação foi movida por um escritório de advocacia conhecido por fazer esse tipo de processo contra empresas de tecnologia e que irá se defender “vigorosamente”. Os brasileiros entrevistados pelo g1 que atuaram no treinamento em temas sensíveis afirmaram que foram consultados antes sobre se sentirem hábeis para realizar o trabalho e não terem nenhum gatilho ou dano emocional. Toque humano (mas não muito) Apesar de ser chamada de inteligência artificial – nome contestado por alguns especialistas da área - a tecnologia precisa do trabalho humano para categorizar e orientar como milhões de dados devem ser rotulados. "Até o nome, IA, tem gente que fala que foi um pouco infeliz. Grosso modo, IA é uma forma de você extrair conhecimento de dados e automatizar algumas tarefas”, explica o professor André Ponce de Carvalho, diretor do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, que se debruça sobre o tema há mais de 30 anos. O toque humano também é essencial para ensinar a IA a tentar responder de forma natural. Marcos explicou que, durante os treinamentos, precisa alertar quando a ferramenta utiliza termos excessivamente formais, típicos de chatbots, como “Olá, como vai? Que bom ter você por aqui”. ➡️A comunicadora Thais Gouveia, de 42 anos, que colabora com diversas plataformas para treinamento de inteligência artificial, contou que também já aplicou treinamentos sobre o tom adequado para uma resposta, indicando como ela deveria soar natural. “Precisamos trazer esse toque humano, porque é exatamente o que a IA não possui. E com todo o cuidado para que a IA não comece a achar que é humana. A IA não pensa, não gosta, não tem opinião. É um paradoxo”, analisa Thais. Apesar de ser uma entusiasta do tema e contar que se emocionou até com o filme A.I. - Inteligência Artificial (2001), de Steven Spielberg , Thais avalia que a tecnologia ainda é muito incipiente. “Tudo que eles [IA] sabem, vem da gente, vai demorar muito para fazer essa revolução que acham que eles vão fazer porque ainda não chegam nem aos pés dos humanos”. Renda extra, demandas incertas e pagamento em dólar Barbara e Marcos, em São Paulo, e Thais, no Recife, trabalham remotamente para plataformas de treinamento de inteligência artificial, muitas delas sediadas na Califórnia. 📍 Em 17 de abril, a Outlier, por exemplo, oferecia 410 vagas em diversos países como Brasil, Argentina, Porto Rico, México, Alemanha, França, Japão, Austrália, Índia, Turquia, Nova Zelândia, Egito e África do Sul. 💵O pagamento é realizado em dólares, por hora. A média de remuneração, conforme relataram os colaboradores entrevistados pelo g1, é de 10 dólares por hora. Temas sensíveis costumam oferecer uma remuneração maior, variando entre 18 e 19 dólares por hora. Barbara, no entanto, reclama que algumas tarefas de treinamento, embora idênticas às oficiais, oferecem um pagamento significativamente inferior, como 3 dólares por hora. Os brasileiros relatam que o trabalho funciona como uma renda extra, devido à incerteza das demandas. Pode haver dias com muitas tarefas, seguidos por períodos de semanas sem novas atividades. A maioria foi recrutada via LinkedIn, o que gerou desconfiança, reforçada por relatos em fóruns online sobre atrasos e falhas nos pagamentos. 🔒 Eles assinam um termo que estipula que qualquer informação, conteúdo ou material ao qual tenham acesso deve ser mantido em estrita confidencialidade. Afinal, quais os possíveis riscos da tecnologia? De acordo com o "Relatório Internacional de Segurança em IA”, elaborado por 100 especialistas de 30 países, as maiores preocupações e os riscos com essa tecnologia são: Potencialização de pessoas mal-intencionadas, já que a IA pode ser usada para manipular conteúdo e disseminar desinformação. Facilitação da criação de armas químicas e biológicas, com a tecnologia ampliando o acesso a conhecimentos específicos para esse fim. Decisões independentes: com o avanço da IA, sistemas autônomos (inclusive de armas e bombas) podem tomar decisões sem intervenção humana, o que representa um risco significativo para a segurança internacional. O relatório foi divulgado no final de janeiro pelo governo do Reino Unido. O trabalho foi comandado pelo cientista da computação Yoshua Bengio, e contou com especialistas da Organização das Nações Unidas (ONU) e da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). ➡️ Um dos dois integrantes brasileiros é o professor André Ponce, diretor do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP. Para o professor, um dos caminhos para mitigar esses riscos é aumentar a transparência da forma como os modelos de inteligência artificial funcionam, mostrando como eles chegam a determinadas conclusões. “Muitos desses modelos são caixas-pretas, são redes neurais que pegam o conhecimento e o distribuem em várias sinapses artificiais. Não é claro como a rede chega a uma decisão”. *Nome foi alterado porque entrevistado preferiu não se identificar.

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