segunda-feira, 30 de junho de 2025

Por que a nova IA do Google virou a queridinha dos vídeos bizarros e bobos no TikTok — mesmo sendo paga


Veo 3, motor da plataforma Flow, do Google, gera vídeos hiper-realistas com diálogos e cenas conectadas, fazendo com que o usuário vire um 'diretor de cinema'. Por que a nova IA do Google virou a queridinha dos vídeos bizarros e bobos no TikTok Em vídeos que circulam no TikTok, moradores reclamam de buracos no asfalto — e, logo depois, se jogam dentro deles. Em outro, uma senhora pergunta se o ônibus passa por Interlagos, e o veículo literalmente entra no autódromo, entre carros de Fórmula 1. ⚠️Nada disso é real. Os conteúdos são criados com o Veo 3, ferramenta de IA do Google que serve como "motor" da plataforma Flow, onde o conteúdo é gerado. O acesso é pago e está disponível no plano Google AI, a partir de R$ 96,99 por mês. Desde o início do mês, muita gente tem usado a ferramenta para criar vídeos "bobos" que se espalham rápido nas redes. Um dos exemplos mais famosos é o da "Marisa Maiô", uma apresentadora fictícia de humor ácido que, mesmo criada por IA, já apareceu fazendo publicidade para marcas reais. Apesar do custo da ferramenta — que pode chegar a R$ 1.209,90 mensais no plano mais avançado —, não está claro por que o TikTok foi inundado por vídeos feitos com o Veo. Um dos motivos pode ser a oferta de 15 meses grátis do Google AI, que inclui o Veo 3, para estudantes universitários no Brasil. O que explica o sucesso da ferramenta? Fames de vídeos virais no TikTok criados no Flow, do Google. Reprodução/TikTok Diferente dos modelos anteriores e até rivais, como o Sora, da OpenAI, o Veo 3 gera não só as imagens, mas também diálogos, trilhas e efeitos sonoros coerentes com a cena, explica Cleber Zanchettin, especialista em IA e professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), que também testou a tecnologia. Segundo ele, todo esse poder da tecnologia transforma o usuário final em um diretor de cinema. "Esse novo modelo do Google se destaca por produzir cenas hiper-realistas com áudio sincronizado, algo bem complexo de fazer", diz. O que torna o Veo 3 diferente de outros geradores de vídeo, como o Sora, é o nível de controle oferecido. A tecnologia do Google permite criar sequências de cenas conectadas, manter personagens ao longo da narrativa e definir ângulos, enquadramentos e até os diálogos. Cena de um dos vídeos criados no Flow que viralizou no TikTok. Reprodução/TikTok Os vídeos criados são curtos, com até 8 segundos, mas é possível montar histórias mais longas a partir de sequências que depois podem ser unidas. Já o Sora funciona de forma mais limitada: ele gera vídeos a partir de um único comando de texto, ou seja, que são "independentes" e não em sequência como o Flow. Segundo Cleber, os vídeos que mais viralizam tendem a explorar o equilíbrio entre o realismo e o absurdo, e isso é um prato cheio para a criatividade das mídias sociais. "Seja um personagem de ficção vivendo situações mundanas, pessoas comuns falando coisas estranhas, ou cenários completamente surreais apresentados de forma realista", analisa. Área onde o usuário pode inserir comandos para criar seus vídeos. Reprodução/Google Flow O Veo 3 foi lançado durante o Google I/O 2025, conferência da companhia para desenvolvedores. A convite do Google, o g1 acompanhou o anúncio da tecnologia diretamente da Califórnia (EUA). Na ocasião, a empresa apresentou também o Flow, a plataforma que usa o Veo por trás das criações. Já naquele momento, o Google falava em produções com qualidade cinematográfica feitas com essas ferramentas. Timeline do Google Flow, onde são criados vídeos de meme postados no TikTok Reprodução/Google Flow O g1 testou o Flow: a ferramenta funciona como um editor de vídeo, mas, em vez de ter uma linha do tempo ("timeline", em inglês) para editar imagem e som, traz uma caixa onde o usuário insere o comando ("prompt") da criação. Nos testes do g1, o Flow ainda não aceitava comandos em português — apenas em inglês. Mesmo assim, conseguiu gerar muito bem diálogos em português do Brasil. Poder da tecnologia gera preocupação Google lança ferramenta que transforma texto em vídeo cinematográfico Durante o anúncio no Google I/O, muitas pessoas questionaram, nas redes sociais, como a big tech alimenta o banco de dados dessas criações. Outros alertaram para o risco de impacto no mercado audiovisual profissional. "Quantos bilhões de dólares em propriedades de outras pessoas você roubou para que isso acontecesse?", perguntou uma pessoa ao Google. "Uau... qualquer um pode ser um cineasta agora", ironizou outra. "Tecnologias como o Veo 3 precisam ter aprendido praticamente o mundo inteiro em vídeo. Mas, não fica claro como foi o licenciamento dos dados usados em seu treinamento, sua representatividade, estereótipos e transparência", diz Cleber Zanchettin. O g1 procurou o Google para comentar a popularidade e as polêmicas em torno da tecnologia. A empresa afirmou ver na IA um potencial para impulsionar a criatividade e democratizar a produção de conteúdo. A big tech também destacou que proíbe o uso dos modelos para fins violentos, sexuais ou odiosos (leia a nota ao final da reportagem). No último dia 19, o canal norte-americano CNBC revelou que o Google tem usado vídeos publicados no YouTube para treinar seus modelos de inteligência artificial, incluindo o Veo 3. A informação foi fornecida por uma fonte que preferiu não se identificar. Segundo a emissora, o Google afirmou confiar em seu acervo do YouTube para esse tipo de treinamento. A empresa disse ainda que utiliza apenas um "subconjunto de vídeos" e que tem acordos com criadores de conteúdo e empresas de mídia para esse uso. "Sempre usamos o conteúdo do YouTube para melhorar nossos produtos, e isso não mudou com o advento da IA", disse um porta-voz do YouTube à CNBC. Ainda assim, vários criadores ouvidos pelo canal disseram não saber que seus vídeos poderiam ser usados para esse fim. A preocupação também se estende a outras empresas. A OpenAI, por exemplo, foi alvo de críticas de um grupo com mais de 400 atores, cineastas e músicos, que acusaram a companhia de tentar "enfraquecer ou eliminar" proteções de direitos autorais para treinar seus sistemas de inteligência artificial. O que diz o Google "Acreditamos que a IA tem um grande potencial para possibilitar novas formas de criatividade, democratizar a produção criativa e ajudar as pessoas a expressarem suas visões artísticas. Nossas políticas restringem o uso de nossos modelos para atividades sexualmente explícitas, violentas, odiosas ou prejudiciais, como discurso de ódio ou bullying, e para desinformação, deturpação ou atividades enganosas, incluindo fraudes, golpes ou outras ações enganosas como a falsificação de identidade, entre outras. É importante ainda que as pessoas possam saber a origem do conteúdo online. Nossa tecnologia SynthID insere marcas d'água digital em todos conteúdos gerados por modelos de IA generativa do Google. Também adicionamos uma marca d'água visível a todos os vídeos gerados por Veo. Os modelos de linguagem fundamentais do Google são treinados principalmente em dados disponíveis publicamente na web aberta. Além disso, Veo é treinado em pareamentos de vídeo-descrição de alta qualidade. Pareamentos de vídeo-descrição são um vídeo e a descrição associada do que acontece nesse vídeo". Sósia de Bezos posa para fotos em Veneza e confunde turistas Bloqueio de celular por PM e previsão de chuva com IA: veja 3 anúncios do Google Robô que aprende com vídeos começa a ganhar espaço em fábricas e indústrias

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